E o xerife se foi: Morre Waldir do Taxi

No meu tempo de bola ele não era conhecido como Waldir do Táxi (foto/Dois Estados), era simplesmente Waldir ou até Waldir Chocalho, herdando, como todos os irmãos, o apelido do irmão bom de bola, Chocalho, e era um dos melhores zagueiros/zagueiros que passaram pelo futebol de nossa Miracema. 

Em campo o cara era uma fera, amedrontava todos os atacantes e ditava ordem e respeito na zaga do Tupã e depois na Associação, que nasceu da fusão entre o Tupã e o Esportivo no início dos anos 1970, mas fora dele Waldir era um oposto daquilo que se via em campo, alegre, simpático, educado e dono de um sorriso que contagiava quem estivesse por perto dele. 

Pra vocês, amigos que não conheceram o zagueirão/xerife do Tupã, eu vou contar apenas um caso, acontecido entre mim e ele, em um jogo no campo do América, quando eu "briguei" com o pessoal da Associação e fui disputar o Torneio Rio x Minas pelo Miracema FC, do meu inesquecível e saudoso amigo Jair Polaca. 

A Associação havia vencido o Atlético Palmense e nós, do Miracema, derrotamos o Operário, também de Palma/MG, e a decisão seria entre os times da cidade, no Estádio Irmãos Moreira, aquele que citei acima como Campo do América, que era reduto do Waldir e toda turma do bairro famoso por ter grandes jogadores e famílias de bons de bola, entre eles todos o Augusto de Souza e, o mais famoso, Célio Silva, que veio depois de Orlando Fumaça, também saído do Campo do América. 

E lá rolava a partida decisiva entre Miracema x Associação, zero a zero encravado e o Waldir espanando tudo e todos. Ninguém entrava na área e por ali só bola alta, meus companheiros, e eu claro, tínhamos respeito e um pouco de medo do xerifão, que limpava a área como poucos, mas cá prá nós, também sabia jogar fácil quando queria, tinha bom domínio de bola e uma categoria peculiar da família Souza. 

Mas lá pelos 40 do segundo tempo um destes cruzamentos do Thiara, lá da ponta direita, caiu na meia lua, ali fora da área, e subimos eu e o Waldir, e fui mais feliz e mandei no canto, meio sem jeito e muito sem querer, uma bela cabeçada e saco. Gol do Miracema. Gol do título. Porém, tem sempre um porém, quando fui comemorar o Waldir estava no chão, sangrando, com a mão no rosto e olhando duro pra mim. 

Corri e o Polaca percebeu e me tirou do jogo na hora em que Waldir saia também para ser atendido fora de campo com um baita corte no supercílio. "Te pego depois camarada", dizia ele ameaçando. E o jogo acabou, comemoramos e eu sempre de olho no amigo e companheiro de sempre, respeito é bom e a gente gosta. 

Depois daquele jogo eu quase não cruzava com ele, havia um certo receio de que pudesse ter briga ou coisa parecida. E um dia, em um treino da seleção, nos encontramos e parecia que nada havia acontecido. Ele chegou pra mim, dando gargalhadas, e disse: "Ainda está borrando de medo? Larga isto, é coisa do jogo, você não me agrediu naquele dia foi apenas um lance sem querer, vamos em frente e pode voltar a falar comigo, gosto de você e somos amigos. 

Este era o amigo Waldir Augusto de Souza, o Waldir do Taxi, que nos deixou ontem por volta das 18 horas devido a problemas sérios de saúde em Itaperuna, onde estava internado no Hospital São José do Avaí.

Comentários

  1. Foi com muita tristeza que tomei conhecimento do falecimento do nosso Waldir, nem sabia que estava enfermo. Ausente de Miracema não poderei comparecer ao seu velório, porém, daqui de Guarapari, externo meus sinceros sentimentos pelo passamento deste meu amigo taxista, Wadir do Táxi.
    Tive a oportunidade de prestar uma justa homenagem a ele e outros atletas da Associação Atlética Miracema quando fui presidente desta entidade, ganhando dele a primeira camisa oficial do primeiro jogo da AAM, camisa que jogou e guardou, porém, minha intensão era expô-la em um quadro que deveria ser exposto no hall da sede social do clube, todavia, com a mudança de rumo que tomou a nossa gloriosa entidade acabei por guardá-la e depois a devolvi, pois, como tantos outros troféus, fitas de vídeo e áudio que se perderam com o tempo devido ao descuido geral, não queria que essa camisa histórica fosse parar em algum lugar impróprio, não sei qual o destino que foi lhe dada por ele, muito provavelmente, deve estar guardada em sua casa e será preservada como relíquia pela sua família.
    De fato ele era um Xerife na zaga, mas tinha categoria e sabia jogar bonito também. Neste momento deve estar em um bom lugar no plano espiritual. Deixa muitas saudades.

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  2. Belo depoimento, Categoria. Ligue o celular, quero falar contigo

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