Velho Maraca x Arena Maracanã


Para quem viveu todas as emoções no “Maior do Mundo”, a sensação de ver o New Maraca, hoje chamada de Arena, é algo transcendental. Ao adentrar ao santuário, pela rampa principal, senti um frio na barriga incrível, me lembrei da primeira vez que desci de um ônibus, vindo do Estácio, para assistir, carregado pelo meu saudoso pai, a um jogo do Flamengo, e confesso que por pouco não cheguei as lágrimas.

Lágrimas que só não caíram porque vi a alegria estampada no rosto de minha esposa, Marina, que vivia a sua primeira emoção verdadeira no salão nobre do futebol do mundo, nas outras vezes me parecia obrigada a me acompanhar e nunca mostrava felicidade de estar presente ora assistindo um jogo do Flamengo ou até mesmo da Seleção Brasileira, mas naquele momento curtia, ao lado dos primos, o prazer de estar ali para ver uma partida oficial da Copa do Mundo.


Comparações não existem, o velho Maracanã é algo que não terá substituto no coração de qualquer torcedor Arquibaldo ou Geraldino, como eu e milhões de brasileiros que ali deixaram suas tristezas e e alegrias nos degraus quentes do famoso tempo do futebol mundial. Como comparar? Como tentar explicar as duas emoções? Impossível, meu caro seguidor/leitor.

O velho Maracanã tinha todo um charme, um quê especial, uma contagiante mistura de beleza e neutralidade, diziam os velhos cronistas que ali era o palco principal do Flamengo, mas com certeza foi, durante seis décadas, o palco principal de Flamengo, Fluminense, Vasco da Gama e Botafogo, ali os cabeças de bagre ou folclóricos jogadores, como Fio Maravilha, se encontraram com o sucesso e fizeram história com as camisas mais famosas do Rio de Janeiro.




Não vamos ver Garrincha nem Sabará, nem Babá ou Escurinho, Henrique ou Valdo, Vavá ou Dida, mas em breve, quando a bola rolar novamente no agora Novo Maracanã, só ficará a saudade de por lá ter visto Zico, Jairzinho,Roberto Dinamite e Gerson. Viram só que não falei Pelé & seus parceiros do Santos? Eu vi o título mundial, conquistado em 1963, diante do Milan, mas será que assistirei o último jogo da Copa 2014 como meu pai assistiu o último jogo da Copa 1950? Não, eu não tenho ingresso e não estarei presente.

As instalações estão maravilhosas, totalmente diferente daquele surrado Maracanã de quatro anos atrás, abandonado e sacrificado pela imensidão de torcedores mau educados, verdadeiros vândalos, que pagavam ingresso barato, ou nem pagavam ingressos, beneficiados que eram pelos dirigentes de seus clubes amados, e hoje, com a elitização das numeradas, não temos vândalos, por enquanto, e podemos ver que tudo ainda reluz e dá gosto de vivenciar.


Não há como comparar a emoção de ver um clássico, como o velho e centenário Fla x Flu, com 180 mil pagantes, como vi diversas vezes, assistir apertado e pessimamente acomodado, um Brasil x Paraguai, eliminatórias para Copa 1970, quando quem se levantava não sentava mais, ver a despedida de Pelé, a vaia para Julinho, os aplausos para Zico, os títulos brasileiros do Flamengo e outras vitórias espetaculares da Seleção do Brasil, tudo isto é incomparável e, tenho certeza, não veremos na Arena Maracanã.

O bom, o velho o feio estádio Mário Filho deu lugar para o bom, o bonito e o confortável, tem que ser no feminino? Arena Maracanã e daqui pra frente, meu caro Gilberto Maluf, a história é outra, terá que ser contada em páginas douradas e não nas páginas de chumbo que vivemos por seis décadas, no meu caso apenas cinco décadas.

Vivi intensamente o velho Maracanã, ali corri atrás de bola, atrás de reportagens, contei histórias de gols na latinha da minha querida Rádio Princesinha, da Rádio Nacional/Rio, da Campos Difusora, Rádio Cidade e gravei meu nome na Cabine 18 e 16 da parte destinada ao rádio esportivo brasileiro. Por ali escrevi páginas para a Folha da Manhã ou para O Diário, e quando vi, pela primeira vez, meu nome escrito no pequeno e simples placar eletrônico do velho e querido Maracanã, eu fui às lágrimas, porque chorar de emoção é comigo mesmo.

E agora? Agora é olhar para o passado porque não curtirei a bela e panorâmica Tribuna de Imprensa, maravilhosa e imponente, mas se me chamarem para voltar a Arena Maracanã, para ver um clássico do Rio, como fiz por décadas, podem ter certeza, eu vou.... Eu vou... Eu vou....RECUSAR.

Comentários

  1. Nunca mais pedirei para alguém comparar os dois Maracas. O Adilson Dutra simplesmente esgotou qualquer outra tentativa de comparação. Foi buscar no Maracanã de outrora Sabará, Babá , Escurinho, Henrique , Valdo, Vavá e Dida. E também aqueles públicos fantásticos que nunca mais teremos. E sobre o novo Maracanã a emoção de vê-lo totalmente renovado e luxuoso. E em jogo de Copa do Mundo. Excelente crônica.

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  2. Quando eu era garoto e colecionava a Revista do Esporte ficava olhando maravilhado o Maracanã, inatingível na época para mim. Depois de alguns anos conheci e vi porque ele sempre foi especial. O Maracanã era e é especial porque foi concebido com uma arquitetura sem igual e está situado na mais alegre e bela das cidades brasileiras. E com um povo de primeira. Tudo a favor.

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  3. Fantástica a comparação! O amigo buscou no fundo da alma e conseguiu relatar com precisão, o que foi o Maraca e o que será daqui adiante.

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