E por falar em saudade: Vai um picolé aí?

De todas as saudades de Miracema a mais gelada é do picolé, que do Vicente Dutra ao Abdo Eid Nassar, passando pelo Vavate e pelo Caboclo, ninguém contesta ou deixa de ter uma história para contar destas frescas lembranças da terrinha. 

Esta semana, com a chegada da triste notícia do falecimento do seu Abdo, em Bom Jesus do Itabapoana, me veio a mente o picolé “saia & blusa” do vovô Vicente, que nada mais era do que um picolé de creme, em baixo, e groselha, em cima, bem divididos ao meio e de forma cremosa na parte de baixo e mais leve, na parte de cima.

Os picolés do Caboclo eram especiais, não continham leite e por isto era mais barato e os sabores diferentes do produzidos pelo Vicente Dutra, ali pertinho, e que tinha uma freguesia certa nos finais da tarde, e entre estes o Jonair Ramos, freguês de carteirinha do “pitoé de chotoate”. 

As noites de domingos não seriam as mesmas se faltasse a Sorveteria Miracema, primeiramente instalada onde hoje é a Leader Magazine, depois transferida para o meio da Rua Direita, onde seu Abdo se instalou e fez um tremendo sucesso com seus quibes, hamus, e, principalmente, com seus picolés e sorvetes.



Você se lembra como era o grito dos caras no carrinho? Você se lembra do primeiro nome do picolé do Abdo? Quem falou Sibéria acertou, obrigado mana Celeste, e o grito que ecoava pela rua era este: Olha o picolé Sibéria”, “Vai um Sibéria aí?” 

Sessão de cinema das seis horas, do domingo, encerrada e o destino certo era a Sorveteria do Abdo, onde o Durval estava sempre a postos e pronto para o preparo da “Vaca Preta” (sorvete de coco com Coca-Cola) ou a “Vaca Amarela” (sorvete de creme com guaraná) que era a febre da juventude miracemense nos anos 70.

Antes da chegada do Abdo Eid Nassar aquele reduto era dominado pelo Vavate, cujo picolé era tradicional e, quando seu Chico caprichava, não ficava devendo nada a Vicente Dutra ou ao vizinho recém chegado ao pedaço. “Uma delícia”, diz a mana Eliane ao lembrar dos sabores do picolé da cidade. “Não tinha nada igual, nem mesmo os da Kibon, que só tomávamos quando íamos ao Rio de Janeiro”, fala a irmã mais velha. 

Realmente, uma delícia e comprovadamente nutritivo,  e hoje, com o passar do tempo e a ganância pelo lucro fácil, não tenho saboreado picolés de qualidade, exceto os da já citada Kibon, e estão mesmo na saudade daqueles criadores destas maravilhosas barrinhas geladas que não mais se encontram entre nós e fazem parte da saudade e de nossas lembranças. 

O Zezinho Medeiros andou se igualando a estes artistas do picolé, fez sucesso e botou a garotada da geração 80/90 a correr pelas ruas com caixinhas de isopor a vender seu bom produto que, infelizmente, durou pouco tempo e deixou água na boca.

Tenho lido, nas redes sociais, que o Lelo Braga está disputando um lugar ao sol com seu Picolelo, quem provou gostou, mas dá para imaginar o quanto nos fazia bem sentar á mesa da Sorveteria Miracema, ao lado das garotas da cidade, e saborear um sorvete do Abdo? 

Não tem preço, como também não tem a saudade do meu avô Vicente e do amigo libanês, lá de Richimaya, que aprendi a conviver com o também saudoso amigo Neffá Murrched El-Koury, que está batendo um longo papo com Abdo Eid Nassar, mas sem o quibe ou hammus. 

Comentários

  1. Dutra, ao chegar a Miracema em 1971 ainda alcancei tudo isso relatado por você, mas, na minha Campos dos Goytacazes dos anos 60, a sorveteria Planície na esquina da rua Aquidabã com Ouvidor do senhor Antônio Luiz da Silva, tinha dois picolés que fizeram sucesso, sabores de coco e ameixa. Coisa especial!
    Abrs.

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