Nasci na casa número 174 da Praça Ary Parreiras, em Miracema, bem no centro da cidade, em frente a Prefeitura, ao lado do TG 217 e quase em frente a nossa Igreja Matriz. Tive uma infância feliz e uma juventude privilegiada, afinal sou dos anos 50 e vivi intensamente os anos 60 e 70, chamados de anos dourados pelos poetas brasileiros.
Mas não vim aqui para contar minha vida na Praça Ary Parreiras ou imediações e nem sequer falar da cidade ou da Praça Dona Ermelinda, do Rink, meus points de criança e juventude, onde aprendi a soltar pipas, jogar bola de gude, rodar pião, e, principalmente, jogar futebol na quadra mais famosa da cidade.
Hoje resolvi contar as histórias de um lugar sagrado, onde passei os melhores momentos de minha infância e um pouco da juventude, hoje vou contar histórias e segredo do meu QUINTAL, o quintal que era uma horta, bem cuidada pela minha mãe, uma ceva, lavada e cuidada pela minha avó, não tínhamos um pomar mas não faltavam frutas frescas retiradas dos pés de manga, goiaba e das parreiras bem tratadas pelas duas Marias da casa.
A horta tinha dedo meu, ajudava bastante, afinal eram as alfaces, as couves, os legumes ali plantados e ali colhidos me dava um dinheirinho para o cinema ou para o circo que chegava a cidade. A seva onde o porco era engordado não tinha um toque meu, confesso que sempre tive medo e não entrava ali nem para ganhar um trocado para o cinema de sábado.
Nosso quintal sempre foi muito grande, havia um porão enorme onde estava instalada a mesa de ping pong, segundo meus amigos uma das melhores da cidade, onde recebia os craques do esporte, Almir Amim, o nosso Mizinho, o Alberto Abdala Júnior, que quando nos visitava era para lá que iria passar o tempo e se divertir nas suas férias miracemenses, o Gute Lontra, o Marcinho e o Scilinho, e outros amigos da rua.
No meu quintal eu fui feliz, cheguei até a sonhar em ser político, uma frase escrita no grande muro dizia "Para Vereador, em 1966, vote em Adilson Dutra". Sonho de criança, naquele tempo sequer tinha idade para ser eleitor quanto mais candidato a uma cadeira na Câmara de Vereadores de Miracema. Sonhar não custa nada e fica por ali, sem chances de virar realidade.
Se fosse nos dias de hoje o meu quintal teria um campinho de pelada, sinceramente falando, dava para preparar um já que nosso vôlei de dupla já era ensaiado por lá, mas era do lado em que havia um pequeno elevado e ficava complicado para quem estava na parte debaixo e não durou muito.
E, depois de adulto, meu viveiro, onde criava canários, coleiros e pequenos pássaros, virou garagem do primeiro carro da mana Eliane e o local da mesa de ping pong se tornou a garagem do primeiro carro da tia Marley, e, para não fugir da necessidade de usar o meu quintal, arrumei uma vaga para meu primeiro carro ser guardado por ali também.
Meu quintal tem histórias, lembranças e segredos, e uma das belas histórias vividas ali recordo com imenso prazer. Aprendiz de pistonista, era um apaixonado pela música e pelo instrumento, ouvia lá do pé de goiaba a maviosidade do som da flauta soprada pelo Dr. Ururay Macedo, vizinho de muro, e um dia, tentando ser ouvido por ele, peguei meu piston e fui para o fundo do quintal tocar a música que ele sempre executava em sua flauta, eu e ele fazendo improvisos inacreditáveis.
Foi um momento marcante, o Dr Ururahy chegou até a varanda de sua casa, tocando sua flauta, como se me desafiasse para um duelo musical, e obteve resposta imediata e, como gostou, sempre às sextas-feiras este duelo era repetido. Emoção ao extremo e recordações incríveis.
Estas e outras histórias vivi intensamente no meu quintal da casa número 174 da Praça Ary Parreiras, onde um dia cantei, brincando no balanço montado pelo meu pai, a música de sucesso daquele tempo: "Marina, Marina, Marina, contigo eu quero casar", e não é que casei com uma Marina e como na música sou feliz até hoje.
Meu quintal tem um grande segredo, mas é segredo e jamais contarei e se a mana Eliane ler este texto ela vai saber que segredo é este, afinal se estou aqui escrevendo este texto é porque ela me ajudou a sair de um grande aperto. Obrigado, minha mana.
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