Recordando as Copas do Mundo - 1958

Como nas últimas colunas eu repito: Como é dura a vida de um cronista esportivo, viver sem bola rolando na cidade e ter que improvisar três vezes por semana já está ficando complicado. Se falar sobre Miracema, onde a bola rola no Campeonato Municipal, meus amigos daqui chamam a minha atenção pelo bairrismo exarcebado.

Se falar em Flamengo, Vasco, Botafogo ou Fluminense, até mesmo no Brasileirão que corre solto pelo Brasil afora, meus amigos daqui e de lá dizem que os cronistas dos grandes diários esportivos é que devem cuidar destes assuntos. Assim fica difícil, minha fértil imaginação está sentindo a pressão e começa a dar sinal de esgotamento. Porém, há sempre um porém nas minhas histórias, tenho boa memória e muita coisa prá contar, principalmente quando o assunto é rádio ou futebol.

Rádio e futebol estão ligados à minha vida desde os primeiros anos, acho que foi lá no longínquo ano de 1958, Copa da Suécia, o primeiro jogo que ouvi, senão me engano foi Brasil x França, semifinal, que, até então, a apaixonante seleção brasileira, começava a trilhar o caminho do sucesso.

Morávamos na Praça da Matriz, em Miracema, pedacinho do Brasil onde nasci e fui criado. Nossa casa estava cheia, pois éramos dos poucos que tinham rádio naquela região, afinal o meu avô era proprietário de um grande bar, que tinha na sinuca e nos salgados a grande atração. O velho era um apaixonado pelo futebol e pelo rádio, donde se conclui que herdei este velho hábito, além do assobio que marcou o velho Vicente Dutra.  

Logo no início, Vavá abriu o marcador, mas Fontaine empatou para a França pouco depois, marcando um de seus treze gols numa mesma copa, recorde nunca mais superado. Ainda no primeiro tempo, Didi, com sua famosa folha seca, colocou o Brasil em vantagem. Após o intervalo foi um show... Pelé, numa de suas melhores exibições na seleção em todos os tempos, marcaria três vezes, fazendo 5 x 1. Todo mundo só esperava o fim da partida para dar início ao foguetório.

Sempre ouvíamos os jogos pela freqüência que o nosso velho e chiador rádio, não me lembro a marca, sei que era marrom e com um dial duro que nem pau, conseguia sintonizar primeiro. A transmissão estava quase inaudível naquele dia e o locutor,não me vem a mente o nome, nem mesmo a freqüência ou o nome da emissora.


Não deu mais para conter a euforia. Comandados pelo vizinho Garibaldi, soltamos, antecipadamente, todo o estoque de foguetes. Só que o gol tinha sido da França. O autor, nunca esqueci: Piantoni. Logo depois o jogo acabou. Mas os foguetes também...

Não fosse umas providenciais bombas “cabeça de nego”, compradas às pressas na casa do pai do Jobinha, a molecada, dentre as quais eu me incluía, ficaria frustrada pela ausência dos fogos na comemoração que se seguiu, regada a vinho Moscatel e guaraná do Lucas, até altas horas da noite.

Comentários

  1. Gozado, Brasil x França também foi minha primeira experiência com o futebol no rádio. Minha mãe ligou o rádio e ouvi o jogo por momentos, ainda não tinha a exata dimensão da importância do jogo. Lembro-me que a vizinha gritou do outro lado do muro em um dos gols. Já na partida final já estava mais antenado. Foi em Bauru, um anos antes de vir para São Paulo. Lá a rádio Nacional do Rio sintonizava muito bem. Só me lembro depois dos rojões e na festa nas ruas do centro da cidade. Futebol mesmo só entrou em mim em 1959, já em São Paulo. A partir deste ano acompanhava tudo, guardada as dificuldades da época.

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