Falando de Miracema - "Este cara sou eu".

 As vezes, no Armazém onde tomo minhas cervejas, às sextas-feiras, me pego falando de Miracema, a minha terra natal, e, de vez em quando, encontro um que passou por lá, trabalhando ou visitando amigos ou familiares, e a prosa fica melhor ainda, e, nesta última semana, um parceiro desconhecido por mim mas amigo do Lenílson, me ouviu falar da "terrinha" e sentou à mesa para prosear comigo. 

Foi um grande prazer, mas confesso que foi frustrante ter que concordar com o moço das vendas e que passava por lá de quinze em quinze dias e tinha uma clientela forte e certa. - Se naquele tempo tivesse a tal de Internet eu não ficaria feliz, meus amigos, hoje, tiram pedidos pelo celular ou por e-mail, eu viajava feliz por ter que ir a Miracema e ver as meninas bonitas da cidade que saiam do colégio transformando aquela que vocês chamam de Rua Direita, em um palco de desfile de misses. 

Realmente, o moço tem razão, era mesmo um espetáculo, pena que, comentei com ele, você não tenha passado um domingo na cidade para ver, na saída da seção das seis do Cine XV, um desfile mais lindo ainda, as moças produzidas desfilando nesta mesma Rua Direita para o deleite da rapaziada louca para se aproximar e se declarar a uma delas. 

Mas aí tudo era sorriso e alegria, mas a realidade veio a tona e o assunto, que era passado, virou presente. Não vou a Miracema há quase dois anos, pandemia e problemas de saúde me impediram de ir até lá, mas sou antenado as coisas da minha cidade e por isto ouvi, atentamente, o que meu novo parceiro das mesas do Armazém, ás sextas-feiras, tinha a dizer. 

Amigo, diz ele, hoje a cidade está derrubada, não consigo vencer nem dez por cento do que vendia naquele período de ouro, anos 1970, e não a tenho mais no roteiro, vou a Pádua e de lá a Itaperuna e mais nada, as outras cidades uso a nova realidade, celular ou e-mail para fechar um pequeno pedido, aquele que um dia era suficiente para bater metas e garantir o alimento do mês da família. 

Mas deixa prá lá, falemos de coisas boas, disse eu, e ele já emendou falando do Altair Mattos Tostes, Jofre Geraldo Salim, Nefá Murched El Kouri, e tantos outros comerciantes que ele atendia e lhe davam o prazer de uma boa prosa e um cafezinho no final do atendimento. Falava com seu Altair sobre pescaria, segue o meu parceiro de boteco, e o homem se empolgava, e quando visitava o seu Jofre eu lia um pouco para trocar uma boa prosa com aquele cidadão inteligente e educado. 

E eu perguntei sobre o Neffá e ele me disse que era um sujeiro espetacular, "o libanês" era incrível, sabia nos atender, muto bem e eu sempre chegava no final da tarde, coisa de quem conhece bem o comprador, e nós íamos para um bar, de um patrício dele, comer quibe e tomar uma ou duas cervejas e com ele ia o seu gerente, um barbudo igual a você assim. 

E a surpresa do meu companheiro ficou estampada no abraço que me deu quando disse: "Esse cara sou eu". Alegria... alegria e muita emoção veio para fechar o papo e marcamos, para a amanhã, sexta-feira, um novo encontro para continuar o papo, já que Lenílson queria ir para praia e fechou mais cedo o estabelecimento. 

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