O medo do vento e o pânico no Maracanã

Estes últimos dias do ano estão sendo chuvosos, provocando enchentes e trazendo problemas para as populações de vários estados, e, por aqui, na minha Campos dos Goytacazes, como é uma planície e próximo ao mar, o vento chega sempre com força e me dá arrepios de medo e me leva a um pânico que não gostaria de ver repetido, sofri muito quando criança vendo minha mãe temer a ventania. 

Eu não tinha tanto pavor como hoje, mas um fato me fez sofrer muito e com isto me colocou o mesmo temor que Dona Lili sentia quando ventava em Miracema. E este medo tem a ver com morte, com destruição e muito pânico no Estádio do Maracanã, no ano de 1971, onde estava para assistir ao clássico Vasco x Botafogo. 

Saí de casa logo após o almoço, por volta da uma da tarde, segui a pé, sob um sol escaldante, para dar tempo de ver a preliminar. Da minha casa, na Rua José Higino, na Tijuca, até ao Maracanã, o trajeto era de no máximo vinte minutos, a pé, e segui caminhando sob o sol e cheguei ao estádio ainda com tempo aberto e céu azul. 

Meia hora depois tudo escureceu. Os relâmpagos iluminavam o estádio e as arquibancadas tremiam a cada trovão. O vento forte soprava e assobiava. O medo começou a invadir o coração de todos nas arquibancadas, cadeiras e até mesmo narradores e repórteres, que pelo tom da voz a gente sabia que o pavor chegava até eles. 

A partida preliminar foi suspensa, os jogadores não voltaram para o segundo tempo, a chuva chegou com força,muita força. Um temporal de dar medo ao mais corajoso dos heróis. Nuvens negras deixando cair um aguaceiro que todos nós sabíamos, principalmente quem conhecia bem a Tijuca e arredores, iria provocar uma enchente que deixaria todos nós ilhados no Maracanã. 

O jogo principal também foi cancelado, impossível jogar futebol com aquele tempo e com aquelas condições de gramado e, apesar da chuva ter diminuído, apenas chuviscava, os dirigentes foram sensatos e cancelaram a partida anunciando um novo jogo para terça-feira. 

E o pior estava por vir. Descendo a rampa o vento novamente apareceu no bairro e provocou tumulto. Me escondi atrás de uma das pilastras e deixei o povo correr e sair apavorado. Pensei comigo: Não preciso correr, vou devagar porque moro perto e não preciso de ônibus ou táxi. 

Mas quem pensou em pegar condução se assustou ainda mais com a chegada as ruas, que se transformaram e rios, e os postes, derrubados pelo vento forte, jogavam os fios sobre a água provocando descargas elétricas que, infelizmente, causando a morte de pelo menos duas pessoas, bem a minha frente. Paredes de casas antigas caíram, não tenho notícias se houve vítimas, mas assustaram a quem já tinha medo, como eu, e nos deixavam presos no portão principal do estádio. 

Uma hora ou mais após cessar a chuva, adormecer o vento e sumirem relâmpagos e trovões, segui meu caminho, andando lentamente pela calçada e em mais uma hora, ou mais, cheguei à casa molhado, nervoso, calado e sem ter com quem desabafar para relatar a minha aventura dominical. Foi duro, meu amigo, muito duro. 

E cinco anos depois, 1976, já casado e trabalhando em Santo Antônio de Pádua, na Vepasa, agência Ford onde hoje funciona a Agência Chevrolet, sofri novamente com o vento forte, que derrubou toda a estrutura metálica do prédio e me deixou preso dentro do banheiro, não por medo, mas no único local seguro dentro do prédio. 

Medo que não passei para meus filhos, aguentei calado até hoje, quando me assustei com um ventinho de nada uma brisa, mas o susto só veio porque me lembrei de minha mãe e destes episódios. Nada sério, mas... 

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