O choro de Ermenegildo

Quarta-feira, véspera de Natal, encontro meu amigo Ermenegildo Sollon sentado à beira da calçada, em frente a Prefeitura de Miracema, com um ar de quem está amargurado e pensando em um passado bem distante.

Ao me ver, surpreso por eu pega-lo naquele estado deplorável, o velho jornalista desabou a chorar e com um voz embargada pela emoção, soluçando sem parar, foi soltando do peito o que lhe afligia naquele momento. 

- Dutra, cadê o Bar do Vicente? Cadê a Padaria do Garibalde? A Farmácia do velho Scilio? Onde estão os herdeiros do Tetinho, do Neném Braga, do João Ramos, do Amaro Leitão, do José Barros, dos Coimbra? Onde está o Salão da Darquinha e a turma do Manoel Reinaldo?

Fiquei assim um pouco surpreso com a reação do veterano parceiro e tentei emendar uma resposta, talvez amenizando a situação, explicando que não há mais ninguém destes citados no nosso reduto, que eu chamo de Triangulo das Bermudas, mas foi em vão, a lamentação continua.

Ainda bem que os herdeiros da Magali saíram da esquina mas se mantiveram no mesmo lugar, já soube que os filhos estão tzémodos ali, na nova morada da minha amiga, que também já subiu ao Oriente Eterno, e a loja do Dover ainda existe, tudo bem que não é a mesma coisa, mas está lá, intacta, mas não tem mais o meu barbeiro Oziel e vi por lá, no antigo Armazém do Jorge, meu bom amigo Monteirinho e seu irmão Roque. Ufa!! Alguém conhecido, meu caro amigo.

O pior ainda estava por vir, Sollon queria conhecer o novo prefeito, Juedir Orçay, e me perguntou se eu o conhecia. Respondi que sim e completei dizendo que o moço é meu amigo e nos receberia muito bem na hora que ele, Sollon, quisesse ir até a sede do município. 

- Então vamos subir agora, vamos até ali no prédio e vamos tentar falar com o Juedir, ou será que é feriado?

Ao saber que nem mais a Prefeitura está no mesmo lugar o velho companheiro desistiu da prosa, se irritou e desabou em novo choro emotivo.

- Estou indo embora, vou lá para a Rua do Café, onde pelo menos vejo os netos dos meus amigos no mesmo lugar. Chega, desisto de tentar resgatar meu passado miracemense e de morado das cercanias da Praça Ary Parreiras.

E saiu sem mesmo combinar o lugar da ceia de Natal. 

Comentários

  1. É preciso entender que as coisas mudam, a parte física. É preciso aceitar que os mais velhos se vão - às vezes alguns mais jovens também. A eternidade não é aqui É preciso concordar com o que chamam de progresso, de modernidade. É vital concluir que o que tratam como passado pode, e deve, estar presente dentro de nós. Pra você, por exemplo, seo Vicente vai estar sempre ao seu lado, à sua frente. É um erro tentartornar eterno o que é matéria, apenas matéria... abração

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  2. Tem razão, Zé Maria, dói mas é a realidade chegando

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  3. Grande ZMA que bom tê-lo de volta. Estou sentindo falta de seus comentários, o último que li foi aquele em que você apostava mariolas, daí para frente toda vez que visito seu blog a página é a mesma, não sei o que houve, mudou?
    Dutra cheguei a Miracema em julho de 1971 para nunca mais sair, pois ela nunca sairá do meu coração, muita coisa mudou e a bem da verdade mudou para melhor, Miracema hoje é muito mais bonita. Porém, se fosse possível, gostaria que a minha Miracema tivesse preservado tudo do que vi inicialmente, todavia, como você diz, tem sempre um porém, e nesse porém, ela preservou muita coisa, mudou muita coisa também, ficou melhorou, melhor ainda, continua bela!
    Abrs.

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  4. O meu amigo Adilson Dutra que anda mais interessado em tomar um bom vinho, comemorar com os parentes e amigos as festas do final de ano, no que está absolutamente correto, ainda não comentou os jogos reprisados pela ESPN de copas passadas. Ontem, assisti Brasil x Itália da COPA DE 82. Sobre esse jogo, gostaria de entrar em muitos detalhes, porém, acho melhor primeiro aguardar o Adilson, isto é, se vai lhe interessar o assunto.
    Enquanto assistia o tape, a sensação era de que o Brasil poderia reverter o resultado a qualquer momento, como se o jogo fosse ao vivo, aliás, o comentarista destacou isso. O certo é que o Brasil tinha uma extraordinária Seleção, todavia, não podemos deixar de reconhecer que a Itália fez um grande jogo! A Itália jogou tudo que pode e foi ao seu limite, já o Brasil não, poderia ter jogado mais, pior, cometeu erros individualmente que foram determinantes para a derrota, lógico que sabemos quais foram e por quem foram cometidos, Antônio e Leovegildo (em respeito a esses dois extraordinários jogadores, para dificultar suas identificações, prefiro citá-los pelos seus nomes de batismo, pois não mereciam ter sido eles os errantes).
    Tristeza a parte o certo é que, a Itália fez um grande jogo, tinha uma grande seleção e mereceu vencer.
    Minha tese a partir daquele jogo: - é melhor vencer mesmo não sendo o melhor, do que perder sendo o melhor.
    Abrs.

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  5. Zé, fiz questão de ver ontem, mesmo pregado e de ressaca, esta repetição do maior jogo de todas as copas. Que jogo. Que dois times maravilhosos. Que alegria ver Falcão, Zico e Sócrates. Que bonito foi ver Leandro, Júnior e Éder. Um time como aquele não se verá jamais e, repito o Mauro César, não lembramos nem um pouco o time campeão de 94, nos Estados Unidos, mas não nos sai da memória o time perdedor de 82, na Espanha.
    Fui a Barcelona e fiz questão de tirar uma foto no antigo Sarriá, onde foi realizado o jogaço, demolido logo após a Copa para dar espaço para novas instalações, que serviram aos jogos justamente para eu ver de perto o templo onde os craques brasileiros caíram de pé diante dos craques italianos.
    Você está correto na sua análise e não há nada a acrescentar, só abrir um vinho e comemorar. Abraço.
    , que servi

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