Tratamento do boleiro de ontem e de hoje

Hoje, no Globo Esporte e em todos os noticiários esportivos, um enfoque especial na longa viagem do São Paulo FC até a Colômbia e sobre o possível desgaste do time tricolor para o jogo de amanhã, contra o Nacional, em Medelim.


E, ouvindo atentamente Rogério Ceni, Maicom e outros jogadores tricolores, cheguei a conclusão que nós, lá nos anos oitenta, quando enfrentávamos caminhão, kombi velha ou então abarrotada, ônibus sem conforto ou carros particulares também sem nenhuma comodidade para os atletas da cidade, eramos herois e verdadeiros artistas da bola.

Hoje o jogador profissional recebe todo cuidado físico, técnico, alimentar e uma preparação especial para cada jogo. Amanhã, em Medelim, o São Paulo FC já terá dormido o suficiente para reparar o desgaste da viagem, já terá, seus jogadores, alimentados com o que há de melhor do mundo da nutrição, e entrará em campo aquecido, com material de jogo de altíssimo nível e terá apenas o trabalho de jogar e vencer.

Lá nos anos 70/80 ou até mesmo 60, jogávamos em todos os campos da região ou mais longe um pouco, valendo pontos ou amistosamente, e, por exemplo, um jogo aqui em São João da Barra, pelo antigo Torneio Murilo Portugal, da antiga Federação Fluminense, o time saia de Miracema pela manhã, por volta das seis horas, sem um café da manhã especial ou até mesmo sem o tradicional desjejum.

Era uma jornada puxada, chegávamos por volta do meio dia ou mais, para almoçar improvisadamente, descansar, precariamente, entrar em campo às três da tarde, jogar, garantir uma vitória e rumar de volta porque no dia seguinte noventa por cento do grupo trabalhava para o sustento da família.

Lembro-me bem de um jogo na vizinha cidade mineira de Palma, naquela época estrada de chão e quase vinte quilômetros de distância, saímos no caminho do Bitico, nosso técnico, e o lateral Trião, que depois jogou no Goiás com o nome de Triel, perdeu a condução e partiu a pé para a divisa, 8
km de caminhada, e de lá uma carona até ao estádio, onde chegou quando o jogo iria começar.

Bitico ficou preocupado com ele e perguntou: "Menino, dá para jogar?" E como Trião disse que sim foi para o jogo e tomou conta da partida e foi o melhor em campo oferecendo a este que vos escreve dois gols para definir o jogo contra o tradicional Clube Atlético Palmense.

E hoje? Bem, hoje é diferente, os profissionais saem em voo especiais, claro que é voo comercial, mas seguem dois dias antes da partida, treinam no estádio para reconhecimento e pernoitam nos melhores hoteis do país, categoria cinco estrelas, com mordomias só vistas em reuniões das cúpulas de governantes brasileiros.

E ainda reclamam e dizem que o calendário é ruim ou coisa parecida. Enquanto escrevo lá está Rogério Ceni, no intervalo de Brasil x Áustria,insistindo que o grupo está cansado da viagem e que precisa descansar bastante, como não fosse esta a programação traçada por Muricy Ramalho.

E estes amistosos da seleção brasileira? Quantos belos passeios fazem estes pobres meninos ricos, quantos imaginariam que  um dia pudessem conhecer as mais belas capitais do mundo, através do futebol, e fossem brincar de jogar futebol ganhando a furtuna que ganham para isto?
Mas se não houver reclamação não tem graça, não é mesmo?

Comentários

  1. Pra quem jogou nos ano 60/70/80 em Moça Bonita sob chuva e sol com um material esportivo pesado(lembram dos meioes e das camisas) com bolas pesadas e chuteuras para escafandristas,chupando laranja no banco de reserva e ainda tendo que catar os radinnhos de pulhas e chinelos atirados sobre suas cabeças ganhando um salarinho de m, e sendo idolos verdadeiros que nos trazem ainda hoje com nossas memorias saudosamente fizeram de nos apaixonados pelo futebol.

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  2. Mano Belo de quando em vez cita aqui que prefere ler os artigos do Adilson e os comentários dos notáveis ao invés de escrever, estou ficando igual. É bom acompanhar um bate papo do Adilson e Sefinho, dá prazer!

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    1. O Adilson é um bam bam bam, quase imortal, não fica devendo em nada, em nada mesmo, aos figurões da cronistas esportivas ou a cronistas da vida real. Tem um deboche singular, uma picardia impar e uma dedicação as letrinhas e a este blog invejável. Ando sentindo muita falta das polêmicas por nós criadas sobre os temas por ele "inocentemente" escritos. O Maluf o Tadeu e a turma dos pseudônimos ajudavam a inflamar as discussões, andam sumidos como eu mesmo andei, mas isso aqui é muito bom, me sinto ao lado de vocês num bar babando de prazer por aprender um pouco.

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