Rádio o melhor companheiro

Bom mesmo era ouvir Jorge Cury dizendo que o Flamengo estava sendo garfado ou o Ruy Porto comentar que estavam roubando o Fluminense e Saldanha dizendo que o Botafogo jogava de forma errada.
Bom mesmo era ouvir Waldir Amaral narrando com sua tranquila postura e pedindo sempre a opinião de quem estava atrás das metas. Estes eram nossos olhos, estas eram nossas guias e a nossa razão de ver futebol.
Hoje é diferente, o rádio foi esquecido e já não é nosso fiel companheiro das jornadas esportivas e não mais o consultor de nossas dúvidas. Hoje é diferente, o rádio passou a ser uma opção distante e nem mesmo nas arquibancadas ele está conosco, os celulares, com TV digital, substituem as opiniões dos "pontas" estacionados atrás dos gols e servem como o replay que temos em nossa sala.
Nelson Rodrigues já dizia, "o vídeo tape é burro", e assim acreditávamos e muitas das vezes discutíamos com a tevê porque nosso narrador ou nosso comentarista preferido não viu o lance daquele jeito. Hoje são dezenas de câmeras postadas em todos os cantos do gramado e a imagem fala mais do que a voz do rádio.
Era bonito ouvir, sonhar, imaginar e sentir o estádio via ondas do rádio, sempre imaginava o jogo de um jeito e, quando via o famoso video tape, não acreditava que aquela pelada assistida no momento tenha sido aquele jogão que os narradores e comentaristas me fizeram acreditar estar ouvindo.
Muito romântico, muito bacana, as discussões não eram tão destemperadas como hoje, cada um de nós é um árbitro, cada um de nós é um técnico, cada um de nós é um dirigente esportivo e cada um de nós temos a razão a nosso lado e, infelizmente, as razões do adversário não são aceitas e estes hoje são "inimigos" descartáveis das nossas mesas de debate.
O rádio nos fazia pensar e os narradores eram nossos contadores de histórias e muitas destas eram verdadeiros contos de fada. Me lembro daquele horroroso time do Flamengo, de Tinteiro, Buião, Fio e Michila, que se transformava em máquina mortífera na narração de Jorge Cury ou Celso Garcia.
Me lembro da força do time do Vasco quando José Cabral, o "homem da maricota" era o narrador da peleja. Me lembro de Doalcei Camargo passando algo positivo com o time do Fluminense jogando mal ou Antonio Porto desfilando otimismo com o Botafogo de Jairzinho, Roberto e Paulo César.
Este é o rádio, amado por todos e odiados por nossas esposas ou namoradas, que se viam afastadas quando o assunto era uma resenha da noite ou um joguinho qualquer na Rua Bariri ou Ilha do Governador. A televisão engatinhava e só mostrava um video tape chuviscado e sem a graça de uma transmissão da Globo, Tupi ou Nacional, e aliás, nos dias de hoje, continua sem graça e muito mais informativa do que qualitativa.
Adilson, quando a gente gosta faz melhor que a média . Sei que gosta do rádio e nesta crônica você colocou talvez até o coração. Muito bom. Para quem viveu a era de ouro do rádio e para a imaginação dos jovens de hoje.
ResponderExcluirObrigado Gilberto Maluf, esta foi mesmo escrita com o coração soltando do peito.
ResponderExcluirCompletamente emocionado e uma enorme saudade da minha infancia e juventude. Os sons da latinha ecooam em meus ouvidos agora. Lindo seu texto.
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