Jornalista: O que comemorou no seu dia?

Ontem foi "Dia do Jornalista" e não havia muito o que comemorar, principalmente por aqui, na intrépida e formosa Campos dos Goytacazes, onde o profissional desta área é menos valorizado do que o peso dos chilenos, mas talento não faltam e muitos estão na fila de espera por empregos decentes ou já migraram para outras profissões em áreas completamente divergente da escolhida pelo recém saído ou pelos antigos ou formandos mais antigos. 

O dia é triste e me faz voltar ao tempo e relembrar duas passagens, destas que denigrem a profissão e que deixam enraivecidos aquele amante das letrinhas ou das latinhas. Vejam se tenho ou não razão com meu comentário ácido e revoltado com o estado lamentável do jornalismo nosso de cada dia. 

Final de curso, um jovem talento sai para sua busca de emprego após estágios, não remunerados, pelos jornais e emissoras de rádio e televisão da região. Dois meses passados e a primeira porta abre para o jovem jornalista, cheio de ideias e com um tesão louco para trabalhar e começar a ganhar seu rico dinheirinho.

- Olá, disse o rapaz se apresentando ao dono do jornal, sou Antonio da Silva (nome fictício) e venho me apresentar para o trabalho. 

- Olá, tudo bem? Respondeu o ditador (ops, o dono do jornal) você pode começar hoje, mas vou avisando, não há assinatura de carteira, não pagamos o salário base da categoria e você terá que atuar em todas as áreas do jornal. Certo?

- Não. Muito obrigado, preciso de trabalhar para sustentar minha família, que gastou uma nota preta para me formar, não sou joguete e não aceito este regime ditatorial que vocês insistem em adotar na cidade, retrucou o rapaz. 

O até logo e um muito obrigado foi o que ele ouviu na despedida e em seguida foi para os cursinhos da cidade para se preparar e hoje é serventuário da justiça, concursado, não exerce a profissão e nem gosta de ouvir falar que passou quatro anos na faculdade em busca de um futuro e do seu ideal. 

sta outra passagem, que conto aqui agora, acontece comigo, em um veículo famoso e que tem grande audiência nos canais especializados nas tevês por assinatura deste país varonil. 

Me apresentei para um teste, indicado por um grande amigo, e antes mesmo de ser chamado eu já ameaçava abandonar o barco. Um dos candidatos, hoje famoso, me perguntou se eu queria mesmo fazer o teste, perguntei o por que da pergunta e a resposta veio na bucha, sem medo de me aborrecer ou desmotivar:

- Aqui homens de sua faixa etária (tinha eu quase sessenta anos) não são aproveitados e nem são chamados para conversar, você é exceção, mas se tivesse um corpinho bonito de uma moça, ou músculos sarados de um rapagão, ou alguém para garantir o "teste" estaria contratado, mas como não tem nada disto pode tirar o cavalinho da chuva. 

Não achei aquilo arrogante, sou fã do camarada até hoje e torço por ele, que aliás passou no teste por aceitar o mísero salário oferecido, e por ser competente e dinâmico chegou onde está atualmente, e tinha a certeza de que ele estava certo, afinal era, e sou, telespectador assíduo do canal e vejo as mediocridades florescerem a cada temporada e os bons saindo atraídos por melhores salários e condições de trabalho. 

Voltando ao nosso jornalismo doméstico vou logo dizendo que me dá uma profunda tristeza em ver meu filho, também formado no ramo, optar por ser bancário (concursado do Banco do Brasil) por não ver oportunidades de viver dignamente, me perdoem os companheiros, nesta profissão, só sobrevive quem tem dois ou três empregos para garantir o leite das crianças e o pão nosso de cada dia. 
No rádio... bem deixa prá lá, vou falar demais e posso magoar muitos amigos bacanas. 

Comentários

  1. Parabéns ao jornalista eclético, ao jornalista com categoria, ao jornalista do bando de loucos, ao jornalista premiado com uma bola dourada e parabéns ao miracemense jornalista poeta com quem tenho aprendido muito com sua sagacidade me fez despertar uma tenacidade e coragem para continuar por aqui a me divertir com algumas frases e posicionamentos. Parabéns aos jornalistas informativos e investigadores que continuam a nos mostrar lados verdadeiros e ocultos do cotidiano mundial.

    ResponderExcluir
  2. Estou me associando ao camarada Yussef Damian, Sefinho, com este belo e eficiente comentário, acrescentaria apenas uma coisa: Parabéns ao jornalista Adilson Dutra por ser o mais vascaíno dos flamenguistas.
    Abrs amigos.

    ResponderExcluir
  3. Como assim? Não seguiu carreira dentro das 4 linhas, por ter posto a camisa errada. Enferrujou o cara.

    ResponderExcluir
  4. Não é bem assim não, mas, teve alguma coisa parecida com isso e pelo que sei, rolou amor e não ódio.

    ResponderExcluir
  5. Sim, ódio não existe no meu coração, o quase amor sim. Valeu, notáveis.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

Fla quebra rotina

Carioca 2023 -

Eis a minha seleção