Os sambas enredos de uma vida

E aqui, ouvindo os velhos e bonitos sambas enredos das Escolas de Samba do Rio vou ao encontro do Salgueiro, 1971, primeiro e único desfile que vi ao vivo e em cores, ainda na Marques de Sapucaí sem Sambódromo e com a certeza de que era bem melhor, pelo menos a gente se sentia mais livre e com compromisso menor de ficar sentado ouvindo os sambas e assistindo a escola passar. 

Fui porque era frequentador assíduo da quadra do Salgueiro, na Rua Maxuel, na Tijuca, onde encontrava a velha guarda e os novos talentos, como Jorge Bem, freguês constante dos balcões do bar, próximo ao palco, onde as vezes dava até para trocar dois dedos de prosa com o então famoso, mas nem tanto, " Babulina", que hoje não é mais Bem e sim Benjor. 

O Salgueiro chegou arrebentando, Isabel Valença, a eterna Chica da Silva, cada dia mais bonita, era destaque e o enredo escolhido pegou de cara nas quadras de ensaio e nos salões de todo Brasil, o famoso "Pega no Ganzê", que cantava o Rei Negro - Zumbi, e fazia o povo que lotava as arquibancadas cantar desde "Nos anais da nossa história", passando pelo refrão, "pega no ganzê, pega no ganzá", e completando com "que beleza, a nobreza que visita o gongá". 

Um samba que até hoje é cantado em qualquer roda de qualquer canto, um samba que marcou uma geração e que deixou uma saudade incrível neste escriba e em todos amantes do samba, como aquele da Portela, em 1974, quando a Azul e Branco homenageou Pixinguinha, um enredo fantástico e um samba espetacular. Memorize rapidinho que você vai encontrar a letra que diz, no refrão, " e ele, que era um poema de ternura e paz, fez um buquê que não se esquece jamais", vai cantando aí enquanto eu me lembro de mais um por aqui. 

E vou descendo o ano e chego a 1964, confesso que só me lembro do samba e de não ter visto sequer imagens deste desfile, mas só a letra e a música, do gênio Silas de Oliveira, dá para perceber a beleza que deve ter sido aquele desfile simples, sem pompas ou riquezas, mas nas ruas o canto era um só: "Veja, que maravilha de cenário, é um episódio relicário, que o artista num sonho genial, escolheu para este carnaval..." Dá para imaginar o que foi este desfile e como foi a recepção na passarela do samba? 

E fecho o papo ouvindo o samba da Mangueira, a nossa Estação Primeira, que também frequentei nos tempos de Rio de Janeiro, e em 1974 chegou na Sapucaí para arrebentar com o enredo "Mangueira em tempo de magia" e o samba, até hoje guardo na ponta da língua, foi um dos mais bonitos de todos os tempos, rivaliza na minha preferência com este que mostrei acima, do Sila de Oliveira, do Império 1964, e é sucesso até hoje. 

Quando nos salões a banda tocava o Samba da Mangueira a turma se animava e cantava, fazendo coro com os metais, "É o Zé Pereira, com seu bumbo original, eis a Mangueira com seu carnaval...", e este refrão finalizava um samba que começava dizendo "hoje, venho falar de tradições, das regiões do meu país...", e não só encantava como também empolgava foliões ou até quem estava quieto só admirando o baile ou o movimento das ruas. 

E assim foi um pouco do meu bom carnaval, tempo em que ainda perdia noites nos bailes da vida e comprava os LPs dos Sambas de Enredo e botava para tocar na minha Sonata para ficar afiado e não fazer feio nas rodas de samba. 

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