Em dez anos o futebol brasuca foi do auge a decadência

Dez anos de viagens internacionais, foram sete neste período, e de lá pra cá muita coisa mudou no mundo e muita coisa mudou no futebol brasileiro. Veja por exemplo a primeira viagem, em 2005, quando fui a Espanha ver o clássico Real Madrid x Atlético Madrid pela Liga das Estrelas e, naquele jogo, no templo do futebol europeu, o Estádio Santiago Bernabeu, quem brilhava era Ronaldo, o Fenômeno, e seu coadjuvante maior era Roberto Carlos e o treinador Merengue ninguém menos do que Vanderley Luxemburgo.

Era o Brasil Penta Campeão do Mundo, conquista na Copa 2002, era o país do futebol e além destes citados o melhor do mundo estava ali perto, em Barcelona, o campeão espanhol da temporada, Ronaldinho Gaúcho, que mandava e desmandava em território catalão, e, claro, muitos outros brasucas se destacavam e faziam contratos milionários na Europa e Kaká começava ser brilhante com a camisa do Milan, na Itália. 

O tempo passou e três anos depois, 2008, lá vou eu de novo atravessar o Atlântico e pousar em terras lusitanas, ao lado do zagueiro Luizão, que pegou o mesmo voo Rio/Lisboa após prestar serviço a seleção brasileira, que um dia antes daquele 11 de setembro empatara com a Bolívia, 0x0, no Engenhão, e eu estava lá, já demostrava que a decadência já era realidade e o prestígio do jogador brasileiro já não era o mesmo no continente. 

Luizão me confidenciou que o clima não era legal após o fracasso em 2006, na Alemanha, e alguns jogadores que brilhavam em Portugal já estavam sendo olhados de lado e pedindo transferência para clubes espanhóis ou italianos e, lá em Barcelona, por onde passei dias depois, pude ver o desprestígio de Ronaldinho Gaúcho, que não teve seu contrato renovado e foi parar no Milan, em Madrid, por onde retornei, Ronaldo e seus batutas já não reinavam e brasileiro era mau visto pelos dirigentes madrilenhos. 

Mas nem tudo era ruim para o atleta brasileiro, na Itália quem dava as cartas era o ítalo/brasileiro Amaury, convocado para defender a Azzurra, brilhava como artilheiro do Calcio e ganhava fortuna com seus gols e suas jogadas de alto nível. Me lembro bem quando em Roma, conversando com um tifosi, disse que Kaká era o rei da Itália e o moço respondeu: "Aqui na Itália quem dá as cartas é Amaury, a seleção do Brasil não o quis e melhor para nós, italianos, que temos o seu faro de gol.

Mas nesta andança por terras estrangeiras o melhor episódio aconteceu em Santiago do Chile, no Mercado Central, quando me encontrei, por mero acaso, com um jornalista chileno, filho de um feirante que vendia seus artesanatos por ali, que me contou algo que só não me surpreendeu porque já estava mais do que calejado com as lambanças e as mutretas dos clubes brasileiros. 

Lembram da contratação de Fierro, pelo Flamengo? Sim, foi uma contratação que eles, dirigentes, acreditavam ser de grande impacto, mas foi mais uma venda de "gato" por "lebre" que o CR do Flamengo teve que engolir, o alvo era outro, o argentino Montillo, que já brilhava no Cruzeiro e os diretores do Flamengo sequer sabiam quem era e muito menos que já estava no Brasil. 

E o chileno me perguntou: - Conhece o Montillo, o craque do campeonato brasileiro, que está no Cruzeiro? Como a resposta foi positiva o jornalista me contou. - O Flamengo, do Rio, esteve aqui procurando um jogador argentino, meio-campista, e foi oferecido Fierro e, pelo menos me pareceu ser, como a comissão foi boa levaram o volante sem ao menos saber de quem se tratava e, para amenizar a contratação, o cara foi convocado para seleção do Chile contra a opinião do torcedor, arrematou. 

E Fierro veio para o Flamengo, não foi aproveitado, não brilhou e um ou dois anos depois foi devolvido e o rubro-negro ficou no maior prejuízo e, enquanto isto, no Cruzeiro, Montillo continuava a brilhar. 

Voltando a viagem de 2005, a Espanha, conto ainda que levei uma camisa do Flamengo, que foi vestida algumas vezes e sempre com olhares curiosos dos espanhóis, que gritavam lá de longe: "Flamingo", "Rio de Janeiro", "Brasil". E, em Zarogoza, em 2008, um jovem espanhol me ofereceu três camisas de clubes do país em troca de uma que eu vestia em um restaurante em que ele trabalhava como garçom.

E foram outras viagens, na França, onde vi um jogo no Parc de Princes, trajando uma camisa da seleção brasileira, não fui abordado, isto em 2011, ninguém me ofereceu uma troca e me frustrou, daquela vez eu trocava a camisa do Kaká por  uma do PSG, mas ninguém deu bola e nem mesmo os portugueses, que dominam Paris, elogiaram ou teceram comentários sobre a famosa "Canarinho", sinal que já estava em queda o nosso prestígio futebolístico no velho  Continente. 

E nesta última viagem, realizada em março/2015, eu senti que realmente o nosso futebol não chama a atenção do europeu. Estava em um hotel, em Lisboa, com toda parafenalia televisiva a disposição, queria ver o clássico carioca, Flamengo x Vasco, decisão do primeiro turno, e conversei com o chefe da portaria e pedi ajuda para ver o jogo, ou na Globo Internacional ou no Premiere Internacional ou outro veículo, e, para meu desagrado,  jogos nos canais portugueses eram do campeonato local, como boa opção os jogos do Espanhol e até mesmo da Grécia, onde jogam diversos craques portugueses. 

- Jogo do Brasil? Não vale a pena comprar, diz o funcionário do hotel, ninguém se interessa e nem mesmo Flamengo e Corinthians tem audiência por aqui, completou o  gerente da portaria do hotel em que estávamos. 

E agora, depois desta situação de imoralidade e irregularidade que vive o nosso ex-alegre futebol, será que ainda tem o prestígio de 2005 ou o desprezo de 2015? 

Comentários

  1. Estava escrevendo um texto meio longo, já no finalzinho apertei uma p...a de uma tecla e tudo foi pro espaço, uma pena, não saberei mais conduzir essa nova escrita com a mesma emoção que vinha fazendo, mesmo assim vou tentar.
    Dizia:
    Em seu texto, como sempre limpo, facilmente consigo visualizar os encontros e diálogos com quem manteve em suas viagens, vejo os estádios, os jogos, as camisas e percebo nitidamente sua aflição, paixão e desilusão por uma prazer que ainda sente quando o assunto é futebol, é mesmo triste para quem também fez desse amor uma profissão, atuando dentro das quatro linhas e posteriormente na imprensa. São 13 anos que nos separam de nossa ultima conquista como foi citado por você, após 2002 participamos de forma humilhante, vexatória, habilmente manipulada por interesses financeiros de todos, todos ligados diretamente ao futebol. Em 2006 lavaram nosso cérebro com um quadrado mágico que era formado por Kaká, Ronaldinho, Adriano e o Fenômeno, seria leviano não considerar um ótimo ataque, tinham conquistado a Copa das Confederações, era um elenco de médio para bom, mas concentração, trenamentos televisivos, glamour, hotéis 500 estrelas, moças, tietes, filas para fotos e autógrafos nas saídas de treinos e tudo isso vendido para a TV, compramos esse lixo. Sinto muito por você amigo, que tem especial prazer em falar sobre futebol, sinto por todos nós que aqui nos divertimos diariamente nesse bate papo, sinto pelos nossos filhos, netos, jovens amigos que talvez não terão a oportunidade de ver seleções verdadeiras, aquelas em que eram convocados 22 ou 23 craques, talvez não vejam times como o Santos de Pelé, o Cruzeiro do Tostão, o Botafogo do Garrincha, o Fluminense do Rivelino, o Palmeiras do Ademir da Guia e do Pio(será que ele vai ler), o São Paulo do Pedro Rocha(concorda José Maria ?) o Vasco do Roberto e do Romário e tantos outros times de total excelência como o nosso Flamengo do Junior, do Leandro e do meu ídolo maior o Zico. Tenha certeza Bola de Ouro, nossa decadência meteórica, como em Mariana, a lama, muita lama saiu do controle nos porões daquela copa de 2006. Minha opinião.

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    1. Vai chegando o fim de ano ele vem com esse texto maravilhoso, estou falando de vc, caro Sefinho, não é do Adilson, que já é Bola de Ouro. Escancarou com todas as letras a nossa triste realidade. O meu voto para o notável de 2015 já é seu. Inclusive, será bicampeão. A única falha foi a não inclusão do Edmundo em sua relação. rsss

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    2. Que isso amigo Tadeu, não é pra tanto, só mesmo você com sua fidalguia e elegância no trato com os amigos poderia enxergar tanta qualidade em minhas palavras, mas concordo com você quanto ao voto, também votarei em mim, mas com muita modéstia é claro (risos), só lembrando que ainda não recebi o prêmio do ano passado, o Adilson Regis Bittencourt me disse que é de 10% do faturamento do blog, pouco com Deus é muito.
      Sobre o Edmundo foi incluído sim, nas entrelinhas, quando falei nos" interesses financeiros"...Edmundo dos Santos Silva. Valeu amigo pela força, rumo ao bi.

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  2. Dois belos textos que merecem só elogios, então, aproveito o assunto para externar meu ponto de vista sobre eles, seguinte: 1- Concordo com a constatação, é inegável que estamos na muda, todavia, ainda assim, temos um craque extraclasse e dezenas de ótimos jogadores atuando nos principais clubes do planeta bola; 2- nenhuma seleção de futebol filiada a FIFA tem o mesmo número de conquistas de títulos do Brasil, 5 vezes campeão do mundo e 3 (?) copas dos campeões. Portanto amigos, precisamos mesmo é evoluir nas táticas, planejamento e organização.
    Breve voltaremos novamente ao topo.

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    1. Longe de brincar ou polemizar, mas você não acha que 1 extraclasse e "alguma" dezenas de ótimos jogadores já é um caos, fazíamos 1,2, 3 seleções de cracaços 4, 5 , 6 seleções de ótimos, mesmo a de 1966 condenada, escrachada,ridicularizada, com velhos campeões mescladas com futuros campeões mundias era melhor que esse bando de "ótimos". O problema está na grana, nas intensões e na lei de Gerson desde a categoria de base, desde a orientação familiar, desde o interesse do papai ficar rico as custas das chuteiras coloridas e de griffe dos guris. A pelada de rua acabou, o olheiro barrigudo morreu ou o aposentaram, no lugar dele entrou o empresário com caneta Mont Blanc. Seu ponto de vista no segundo item é perfeito mas sua conclusão é duvidosa.

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    2. Eis a questão: táticas, planejamento e organização. Não é somente evoluir, temos praticamente que começar do zero. Com um craque e alguns bons jogadores, tendo um técnico capacitado, dá pra formar um time em condições de enfrentar os demais. A crise técnica é evidente e a quantidade de jogadores com qualidade que formávamos caiu drasticamente. Sobre os empresários, é uma doença sem cura no meio do futebol. Eles mandam e desmandam em vários clubes e também na Seleção. abrs

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    3. Nem ao céu nem ao inferno, enfim, Ademir Tadeu: "o paraíso".

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