Causos de um repórter esportivo

A escalação antecipada - Fui, por algum tempo, assessor de imprensa dos três clubes campistas, repórter setorista em todos os três gigantes da cidade, e, por estas e outras, pude conviver com praticamente todas as estrelas do futebol de Campos por longos vinte anos, e confesso que só tive alegrias e agradeço a todos que se tornaram meus amigos durante este período, mas um dirigente até hoje me olha atravessado apesar de me respeitar e dizer para todos que gosta de mim e me tem na conta de amigo, o que acredito porque o carinho que ele tem para comigo é visivelmente sincero.

Porque ele me olha com desconfiança? Simples, vou contar, mas por favor, sem citar nomes de clube ou do dirigente em questão, quem for mais perspicaz vai deduzir mas não vou confirmar e sim desmentir quem tentar ser adivinho.

O causo -  O treinador, após o recreativo da véspera do jogo, me chama e passa a escalação e me diz:  - Pode divulgar, o time que jogará é este que está no papel, dizia ele convicto de que ali estava a melhor formação para o jogo do sábado.

Preparei o material e enviei para os principais jornais da cidade e falei nas emissoras de rádio, ao vivo, o que pretendia o treinador para o jogo decisivo do dia seguinte. E, para minha suprensa, fui chamado pelo presidente para que me explicasse a divulgação do time de forma antecipada.

Pensei que o mandatário não queria a divulgação e expliquei que o treinador não se importava em dizer, de forma antecipada, a escalação. O presidente me dizia, calma e educadamente, como é seu feitio, que estava faltando alguém no meio campo e que um diretor estava na bronca porque seu, digamos assim, protegido não estava no time titular e sim no banco.

Nisto chega o diretor, nervoso e incomodado com a situação, e diz textualmente ao presidente. - Se você não demitir este cara eu estou fora. Pensei que queriam demitir o treinador, mas nada, quem estava sendo demitido era o assessor de imprensa, eu no caso, que se tornava o responsável pela barração do atacante protegido.

Tentei argumentar, mas o dirigente foi duro e nem quis conversa. Então sai de fininho, falei com o presidente que receberia depois o que me era devido (pagou rigorosamente tudo) e que não precisava me dizer mais nada. Fui o culpado porque não tinham coragem de peitar o treinador para exigir a escalação do rapaz, pensei comigo, e esta era a razão real do acontecido.

E o pior é que o jogador também encarou aquilo como uma perseguição, por minha parte, contra ele, ficou longos anos sem conversar comigo (até hoje nem sequer me dirige um aceno ou cumprimento) e não recebeu, por minha parte, uma explicação sobre o entrevero, afinal o que preciso explicar? Não fui culpado e não escalo time.

E o macacão resolveu - Esta aconteceu no Caio Martins, em Niterói, onde jogavam Botafogo x Americano, pelo Estadual da Primeira Divisão em uma quarta-feira chuvosa, bota chuva nisto, deixava o gramado em péssimo estado, os repórteres tal qual pinto molhado e eu, que antes do jogo fui sacaneado e zoado por todos os companheiros, estava trajando uma roupa de motoqueiro, aquele macacão de napa, colado ao corpo, com um boné de couro na cabeça e um par de galocha bem de acordo com o que estava sendo previsto pelos meteorologistas.

Sempre viajei com uma mochila com estes assessórios de chuva, era complicado usar guarda-chuvas na beira do gramado, e como chovia muito resolvi antecipar o uso, mas como os companheiros, principalmente os das emissoras cariocas, zoavam e debochavam de mim, resolvi voltar com tudo para a mochila e fui para o gramado, a chuva deu uma trégua, com todos os apetrechos dentro da mesma.

Lá pelos 35 ou 40 minutos do primeiro tempo a chuva voltou a cair, muito forte, e então resolvi me vestir novamente de "urubu", como diziam os companheiros, e lá fui eu, de microfone na mão, fone no ouvido, boné de couro, roupa de napa e galocha. E, para resumir o assunto, sabe quem foi o único no gramado para entrevistar o artilheiro do jogo? Eu. Sabe quem foi o único a conversar com os dois treinadores? Eu. Sabe quem foi usado pela Globo e pela Nacional para falar com os jogadores do Botafogo? Isto, este que vos fala, que antes estava sendo zoado e sacaneado por todos os meus companheiros.

Resumo: No final do jogo, durante o jantar em um restaurante na antiga capital, sabe quem estava por lá todo enxuto, com tênis seco, camisa impecavelmente limpa e seca, calça sem molhar? Este locutor que vos fala e os jogadores do Americano aproveitavam para zoar os repórteres das emissoras de Campos perguntando porque eles não se sentavam à mesa para jantar; sabem porque não foram? Estavam molhados, sujos e sem condições de adentrar ao chique restaurante.
Depois eu conto outras.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Fla quebra rotina

Carioca 2023 -

Eis a minha seleção