Ninguém gosta da reserva ou ser substituído, certo?

O mestre José Maria de Aquino, aproveitando a "deixa" da reclamação de Michel Bastos, meia do São Paulo, contra o treinador Osório, ao ser substituído, contou, em seu blog, um caso de acontecido com Aymoré Moreira e um outro, com Zagalo, nas seleções de 1962 e 1970.

E, pagando o gancho do meu eterno guru, conto dois causos, acontecidos comigo, no futebol de Miracema, bem mais humilde e excepcionalmente menos famoso do que os dois professores citados e a seleção do Brasil, que naquele tempo era respeitada, amada e seguida pelo torcedor. 

O primeiro ato eu ainda era jogador, creio até que já contei aqui, meu treinador me botou em campo lá pelos 30 minutos do primeiro tempo e me disse: 'Estamos perdendo por 2x0 e não podemos ficar na defesa segurando o resultado, vá lá, jogue pelo lado esquerdo e seja o que Deus quiser". 

Entrei, dei conta do recado, fiz dois passes para os dois gols de empate, ainda no primeiro tempo, e no segundo tempo, antes dos cinco minutos, marquei o gol da virada. E, lá pelos dez minutos do segundo tempo, vi um garoto aquecendo e comentei com o Genuíno. - Agora vamos golear, o garoto vai entrar e vamos aproveitar o cansaço desta defesa pesada. 

Genuíno concordou comigo e até trocamos ideia de como íamos jogar a partir da entrada do rapaz; porém, tem sempre um porém, quando percebi o treinador me chamava aos gritos dizendo que quem iria sair seria eu. 

Parei no meio campo, tirei a fita que prendia meu cabelo, naquele tempo ainda os tinha e era um pouco comprido, não bonito como o do Thiara, mas na moda, tirei a camisa, o calção, a meia e a chuteira, que era do time, e coloquei tudo no meio campo e jurei nunca mais jogar com aquela camisa. Quem jogou comigo sabe quem são os personagens, que evitei falar por aqui porque são meus amigos queridos até hoje. 

O segundo ato foi no meu único jogo como treinador, nos anos 80, e aconteceu em Aperíbé, onde Miracema não conseguia um resultado positivo em jogos oficiais ou amistosos. O Maninho me convidou para ser treinador da seleção de Miracema, ou seria Associação, meu caro José Luiz da Silva? E quando convoquei a turma ouvi assim:

- Guguta não vai querer ser reserva neste time, e o Tachinha, onde é que você vai escalar, na defesa ou no meio campo. Você convocou um monte de meias e vai ter dificuldade para definir os titulares. 

Conversei com o Zé Luiz e fizemos um trato. Zé, vou escalar todo mundo como fez Zagallo na Copa do México e vamos pra cima do Aperibé lá na casa deles. Escalai um ataque com Beto, Ronzê, Guguta e Biluzinho, todos atacantes de alto nível, botei Tachinha no meio campo, com total liberdade para defender, criar e atacar, Fernando, Tindê, Dilico e Luiz Carlos na defesa e Dequinha formando o meio sem o tal de cabeça de área específico. 

Vou resumir: Em menos  meia hora estávamos goleando por 4x0 e o Aperibé nem mesmo tocava na bola e nosso time sobrava em campo. Eles jogaram, literalmente, a toalha e o jogo terminou antes dos trinta minutos, não houve como prosseguir, mas pelo menos não teve a tão esperada briga, que sempre acontecia nos jogos entre Miracema x Aperibé. 

E a turma do contra não gostou, dizia que no jogo de volta ou nos outros jogos seria loucura escalar o time deste jeito, e então conversei com o pessoal e como ninguém queria ser reserva eu, treinador de um jogo apenas, resolvei abandonar a carreira e fiquei com um jogo, uma vitória, quatro gols pró e nenhum contra. Melhor assim né mesmo, afinal eu também jamais gostei de ser reserva, mas no meu tempo só tinha fera jogando e era obrigado a esquentar banco para eles. 

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