Minha fiel observadora Marina em uma missão complicada

Anos setenta, me parece que foi em 1973, levei Marina, minha noiva na época,  para conhecer o Maracanã e tentar faze-la se integrar ao meu espírito rubro-negro e ver o Flamengo jogar contra o Atlético Mineiro, uma das forças do futebol brasileiro e que poderia ser a porta de entrada de Marina 
no meu mundo futebolístico. 

Meu primo Hélio queria leva-la ao teatro, porém, tem sempre um porém, eu gostaria que fossemos todos ao Maracanã para ver o Flamengo jogar e apresentar minha noiva ao Flamengo e ao maior do mundo. E lá fomos nós, domingo de sol, era novembro, e o Flamengo estrearia Rogério, vindo do Botafogo, que passou pela seleção de 1970 e foi cortado devido uma séria contusão, mas diziam estar recuperado e o Flamengo, como sempre faz, contratou um jogador a "meia bomba". 

Marina levou algumas revistas de moda e uma outra de Palavras Cruzadas e pouco prestou atenção na partida, o que ela me pedia era para eu não ficar falando mal do tal Rogério que alguém poderia zangar comigo na arquibancada. Fiz um trato, eu não falo em Rogério e você não lê revistas, isto também pode incomodar a turma da arquibancada. 

Quando eu falei isto o Rogério fez uma das lambanças notórias, atrasou uma bola indevidamente e o atacante do Galo, creio que era o Dario, pegou na intermediária e fez o gol de empate do time mineiro, e sabe o que aconteceu?

- Viu só, você fica falando no número sete do Flamengo, que ele não joga nada, viu só o passe que ele deu? Gol bacana, disse toda entusiasmada a minha querida e amada noiva, só que o passe foi para o adversário e quando soube da mancada ele voltou a ler sua revista e armar suas palavras cruzadas. 

Contei isto para chegar a esta semifinal de ontem, no Maracanã, entre Flamengo x Vasco e novamente Marina é a personagem principal do jogo. Estava assistindo ao jogo sozinho, bebendo uma cerveja, calmo como nos últimos jogos, mas xingando o Márcio Araújo e o Marcelo Cirino como sempre. 
- Posso ver o  jogo com você? Era Marina chegando para me fazer companhia. 
E claro, aceitei e fiz um pedido: 

- Não fale nada, preste atenção nos jogadores do Flamengo, o que tem o número 8 e o que tem o número 7 e vai anotando na sua mente o que eles fazem e me diga no final do jogo se estou certo ou estou errado em critica-los durante noventa minutos. Combinado?

Marina topou, pegou  uma caderneta de anotações e tentou escrever. O tempo passou e nada dela escrever ou me perguntar, e, lá pelas tantas me perguntou:

- Cadê os caras que você pediu para olhar? Eles já saíram?

E não demorou muito para ela repetir a célebre passagem de sua estreia no Maracanã, só que desta vez estava muito atenta ao jogo e mandou rapidamente: 

- Ih, o número 8 fez a mesma coisa daquele jogador na primeira vez que fui ao Maracanã, deu um passe para o adversário e parece que vai sair gol do Vasco, disse, espantada, minha esposa antenada no lance e esperta como sempre. 

Não saiu o gol, mas saiu o tal pênalti contra o Flamengo em um lance ridículo do horrível Márcio Araújo, que, como sempre, joga para os lados e não acerta um passe nem a dois metros de distância. 

Logo depois, quando Marcelo Cirino deixou o campo, substituído, Marina pegou a cadernatinha onde anotava, ou tentava anotar, e me mostrou a página em branco dizendo.

- Não escrevi nada sobre o número 7, acho que você escolheu dois jogadores que não jogaram nada e me fez ficar aqui do seu lado prestando atenção para não falar nada com você, na próxima me dê uma míssão mais difícil, tá? 

E aí minha bronca com a dupla vai chegando ao fim e agora até Marina já sabe que estes dois são enganadores e só mesmo o Flamengo e o profexô aguentam o repuxo. 

Comentários

  1. Em relação ao ano pode ter sido em 1972, pois o Rogério foi campeão carioca desse ano formando o ataque com Caio, Doval e Paulo Cesar Lima(Caju).
    Em relação ao estádio da final, se for no Maracanã, provavelmente o Eurico deve colocar o torcida do Botafogo na arquibancada do Julio Delamare. Pior, vão prá lá.

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