Histórias de verdadeiros campeões - Mauro Ramos e Mário Jorge Zagallo

Meu eterno guru e mestre dos jornalistas brasileiros, José Maria de Aquino, certa vez me contou uma passagem de um repórter, Tom Barbosa, da TV Record, com o capitão da seleção brasileira, bi-campeã no Chile, em 1962, que me fez lembrar uma excelente passagem minha, com Mário Jorge Lobo Zagallo, acontecida no Estádio Ary de Oliveira e Souza, no final dos anos 80.
Primeiro falo do "causo" de Zé Maria, narrada por ele mesmo, em seu Facebook, na íntegra.

"Mauro Ramos de Oliveira era um zagueiro elegante dentro e fora do campo. Jogando, tirava a bola dos adversários sem praticamente tocá-los. Na então passarela do quadrilátero formado pelas avenidas São João, Ipiranga e as ruas D.José de Barros e Barão de Itapetininga, desfilava ternos cortados por Minelli, o mais famoso e careiro alfaiate de uma São Paulo que só vestia roupa feita sob medida. Mauro Ramos de Oliveira - ninguém o chamava apenas por Mauro - era tão elegante, que o apelidaram de Marta Rocha, aquela eterna Miss Brasil. E fugia do "molde" que sempre definiu os boleiros.


Numa tarde de clássico, Pacaembu lotado, Tom Barbosa, da TV.Record, sem ter muito o que perguntar - não é mesmo fácil a vida de repórter - foi de genérico: "Capitão, quais as novidades?".

Resposta:" Novidades? Estou lendo e adorando o "Pequenos Burgueses", de (Maksim) Gorki. É uma obra teatral que trada do conflito entre gerações. Comecei a ler o 2o ato, quando o pai, (Bessemenov) reclama que os filhos (Tatiana e Piotr) não dão atenção ao que ele fala...
Sem ação, Tom Barbosa virou-se para a cabine e disse: "É com você (Raul) Tabajara".
Tá mesmo na hora de tirar a poeira dos livros para mudar o papo...."

Para então, já devidamente narrada a história do repórter que perdeu o rumo da prosa, conto o que passou entre mim e Zagallo naquela tarde de domingo aqui no Arisão.
Domingo qualquer de um mês qualquer e em um dos anos 1980, no Estádio Ary de Oliveira e Souza, na Rua do Gás, em Campos, entro na jornada esportiva da Rádio Cidade por volta das 14 horas e imediatamente me dirijo ao vestiário do visitante, como de hábito, para saber as novidades e pegar as escalações dos juniores, que faziam a preliminar, a bola já rolada, e dos profissionais, que jogariam às 16 horas pelo Campeonato Carioca.

O jogo? Goytacaz e Bangu, que estavam ali no meio da tabela procurando um lugar entre os oito que jogariam o segundo turno do Cariocão, e quem encontro, sentado à beira do gramado, pensando e olhando para longe, um olhar dirigido ao horizonte e não para o gramado, onde os garotos alvianis e alvirrubros jogavam pelo campeonato de juniores, Mário Jorge Lobo Zagalo, treinador campeão do mundo, um dos grande nomes do futebol mundial.

E de cara, sem muito ter o que perguntar, com medo de atrapalhar o momento de reflexão do veterano treinador, eu mando: - O que pensa um treinador campeão do mundo neste momento em que vê garotos de Goytacaz e Bangu? Será que traz a lembrança os tempos de peladas de seus guris, na Tijuca, quando nós (eu falei nós mesmo) tentávamos te mostrar que tinhamos bola para jogar no Flamengo?

O Velho Lobo se assustou com a pergunta, quis saber quem era eu e como podia me lembrar destes fatos. Expliquei que vivi bons momentos por ali, na vila próximo ao seu edifício, que ficava em uma rua sem calçamento, na paralela da José Higino, e que as peladas nossas de cada dia eram bem esquentadas e divertidas, principalmente quanto o tinha na plateia.

Foi a senha que precisava para despertar o Lobo e puxar meia hora ou mais de prosa, só interrompida pelos comerciais, lidos por Luiz Paulo Ribeiro, que teve a sensibilidade de deixar seguir a conversa sem nenhuma interrupção, foi fantástico o papo com Zagalo e considero a melhor entrevista que fiz nestes quase quarenta anos de reportagem esportiva.

Alguns meses depois, em um Shopping em São Paulo, eu caminhava com meu anfitrião, Zé Maria de Aquino, e quem vem no mesmo corredor? Ele, Zagallo, e sua esposa, dona Alcina, e depois de uma troca de abraços entre nós, ele é amigo pessoal de Zé Maria, ele se virou para dona Alcina e disse: - Este aqui é o repórter que te falei, que me entrevistou em Campos e me fez chorar falando das crianças e da nossa casa lá na Tijuca.

Eu pergunto a vocês, tem preço que pague um momento deste? Agora os repórteres de hoje não vivem mais esta exclusividade os grandes nomes do esporte só falam através de assessores de imprensa ou em entrevistas coletivas. Uma pena.

Comentários

  1. Bela narrativa, como sempre, caro amigo Adilson. Se foi emocionante pro Velho Lobo, imagine pra vc. Bons tempos que hoje não temos mais!

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    1. E aí amigo, tá melhor? Quando volta aos "campos"? Grande abraço. Estamos, pelo menos eu, com saudades!!!!

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    2. Ainda vetado pelo DM e sem previsão de retorno. Agradeço de coração as considerações. abrs

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  2. Seu texto é de arrepiar, voltei lá na Tijuca em segundos. Que poder tem a nossa mente. Fiz uma viagem diretamente no túnel do tempo. Quando era guri, no final dos anos 60, Zagalo começava sua carreira como técnico, já no Botafogo tinha sido bi-campeão carioca e da Taça Guanabara (67/68), ele passou de taxi pela Antonio Basílio onde jogávamos uma pelada de rua, na época era muito tranquilo e sem risco, ele fez o motorista dar uma meia trava e da janela mandou algo assim: vão jogar ou treinar nos clubes. E daquela turminha só eu e Chuva(Fernando Augusto) fomos brincar lá no Satélite, no Pavunense e no São Cristóvão. O Chuva era craque, chegou a jogar um torneio patrocinado pela TV Tupi, chamado "Craque na Bola, Craque na Escola". Eu fui pro salão, mas parei logo. O Zagalo pra mim foi o melhor técnico que vi no Brasil, tanto em clube como na seleção.Tá difícil de voltar a realidade, acorda Sefinho. Eita sonho bom. Tô lembrando de cada coisa......

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  3. Então não foi só eu que viu que aqueles moleques da Antonio Basílio tinha futuro, né Sefinho?

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  4. Outro que curtia as nossas peladas era o Luis Rodolfo, filho do Dr Jose Geraldo Lima. A pelada era na frente da casa dele. Tinha um doberman que furava todo bola que caia lá. rsrsrs

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