As faixas do Buru

Silvio Felix, ou simplesmente Buru, era uma das doces figuras da minha Miracema, trabalhava no Cine Sete, depois, com o fechamento do cinema, foi transferido para o Cine XV, que era da mesma empresa, e se transformou em um exímio pintor de faixas e cartazes, além de lanterninha juramentado das salas de exibição dos filmes na terrinha.

Nos anos 60 e 70 a comunicação visual era o principal veículo de publicidade dos filmes, dos jogos no Estádio Municipal ou até mesmos os bailes do Aero Clube eram divulgados com as faixas pintadas pelo mestre das tintas, o Buru. 

Silvio Felix, além de um grande boêmio e seresteiro, era um contador de causos e uma figura de destaque no antigo Bar Pracinha ou na Sinuca do Careca, onde proseava com maestria e soltava pérolas incríveis, verdadeiros bordões criados por sua mente inteligente e produtiva.

Mas hoje estou aqui para contar um “causo’ extra do Buru, dono de uma calçada, na rua do Café, onde pintava suas faixas e ganhava o seu pão de cada dia com honestidade e trabalho sério, seu círculo de amizade lhe rendia vários trabalhos e não havia um evento na cidade que não fosse divulgado através de sua arte.

As faixas do futebol eram previamente confeccionadas, na era de ouro do Bandeirantes, um time mantido pelo Deputado Luiz Fernando Linhares, que tinha sua sede e base no Ferradurão, já nos anos 70, e Buru recebia o bilhete do deputado com o nome do adversário, data e horário do jogo já que o local era sempre o mesmo, o Estádio Ferradurão, no Alto do Cruzeiro.

Certo dia, creio que naquele momento Buru já tinha tomado “algumas’ além da conta, o artista recebeu uma mensagem do deputado, que com pressa de viajar escreveu assim: 

Buru, domingo o adversário é o Nacional, de Muriaé, a faixa tem que ter os mesmo dizeres de sempre, entendido? Abraço, Luis Fernando.

E lá foi Buru, para seu atelier na Rua do Café, confeccionar as cinco ou seis faixas encomendadas pelo Bandeirantes para o jogo do próximo domingo. E quando o Paulinho recebeu a encomenda para serem erguidas nos locais de sempre, uma surpresa:

As faixas estavam simplesmente assim: 

Domingo, 15h, Nacional de Muriaé, os mesmos dizeres de sempre. 

Nem precisa dizer que o deputado foi avisado e, ao invés de brigar, reclamar ou retirar o trabalho do pobre pintor, ele simplesmente deu uma tremenda gargalhada no telefone e mandou voltar, no dia seguinte, com todos os itens em um novo bilhete e comprovar se o Buru não tinha tomado todas antes de escrever.

E, no dia seguinte, à noite, lá estavam as novas faixas, bem escritas, como sempre, no capricho de quem era realmente um artistas das letres.

Domingo = 15h - No Ferradurão
Bandeirantes x Nacional, de Muriaé

Simples, não? 

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