O dia que surgiu o melhor ataque de Miracema


Meu amigo e companheiro Pessanha Filho, um dos monstros sagrados do radialismo brasileiro, sempre me perguntou onde arrumei esta capacidade de ver e decifrar o futebol nas quatro linhas, como se eu soubesse dez por cento do que ele, que já foi técnico vitorioso, sabe e mostra prá gente nas conversas e nos seus comentários no rádio.

Em uma conversa amena, sem compromisso e sem microfones para intimidar as palavras, contei para ele que desde cedo tenho este dom de ver o jogo de maneira clara e sempre dei meus pitacos quando jogava minhas partidas pelos gramados de Miracema ou fora de lá.

Senti que era diferenciado, com licença Rodrigo Bueno, quando em um jogo, creio que foi Esportivo x DER, pelo campeonato de Miracema, quando o treinador Jaci Lopes me deixou no banco, ao lado de Thiara e Cacá, dois garotos como eu, preferindo entrar com um ataque pesado e brucutu para enfrentar a defesa dura, e até mesmo violenta,  do time adversário.

O DER vencia por 1x0 e nada do nosso ataque funcionar. Eu e os dois companheiros no banco apenas assistíamos e lamentávamos a nossa ausência. Eis que o treinador flagrou um comentário meu e me chamou:

- Que negócio é este de você ficar dizendo que se vocês entrarem o jogo vira? Pare de falar, eu sei o que estou fazendo, dizia Jaci Lopes.

No alambrado o Fernando Nascimento, profundo conhecedor do nosso futebol, gritou: “Bota os meninos e solte a velocidade em cima deles”. E Jaci olhou para nós e deve ter pensado:  “Estes caras são loucos, botar estes garotos contra Para Raio, Pula N”água, Cabana e Capela é entregar comida para os leões”. 

O tempo ia passando e eu encostei no Jaci para explicar o que ele deveria fazer. - Passe o Geraldinho para a zaga, adianta o Piazza para o meio, tire os três atacantes e boa a gente para correr. 

- Faltam dez minutos e vocês não terão tempo prá nada, mas tudo bem, entrem lá e vamos ver o que dá.

Entramos e eu fui logo dizendo para o Thiara como jogar, ou seja, bem aberto e em velocidade e evitando o choque ou o confronto direto com o Capela, que batia até na alma, e expliquei ao Cacá para nós dois jogarmos bem perto porque o Júlio iria encontrar espaço entre Pula Nágua e Para Raio, dois postes que não sabiam virar o corpo.

Primeira jogada: Piazza sai jogando, passa para o Júlio, que abre na direita, nas costas de Capela, para entrada de Thiara. O ponta foi ao fundo e cruzou para trás, onde estava o Cacá, livre de marcação, para escorar para empatar o jogo.

Ainda dava tempo, o DER se espantou com nossa velocidade e a festa começou: Júlio, Thiara, Cacá e este que vos fala, em velocidade e sempre em busca do gol assustava os grandalhões e butinudos do adversário. Mais um ataque e outro gol, agora comigo, em jogada pelo lado esquerdo, com Pintinho repetindo o que Thiara fez pelo lado direito.

Jaci gritava para a turma segurar o resultado porque faltavam três minutos. Chamei o Geraldinho e falei com ele para não fazer faltas, Capela era um baita chutador, e falei algo no ouvido dos meus companheiros mais jovens, ninguém ouviu, e depois gritei: - Vamos tocar a bola e fazer o tempo passar, eles estão pregados.

E a defesa de troglodita do DER acreditou que tocaríamos a bola. No primeiro lance o Júlio, com o talento que Deus lhe deu, deu um passe em profundidade para o Thiara, que novamente ganhou de todos na corrida, e quando só tinha Cabana na sua frente só encostou para o lado, onde eu já estava com o dedo no gatilho para fazer 3x1 no placar.

Na saída o Fernando Nascimento comentou com o Jaci Lopes: “Bota os meninos e marque o dia para levantar a taça”, mas no jogo seguinte lá estava o trio pesado e forte para enfrentar o Operário. Depois eu conto como foi.

Comentários

  1. Eu gosto muito de ouvir essas histórias.
    Quando trabalhei no INSS todos os dias Ronzei,Beto(Campelo),Zé Paulo,Zé Maria tinham a hora certa de relembrar os tempos de outrora e Eu sempre arruma um jeitinho de ouvir eles contando as passagens de suas épocas no futebol.Ai Adilson ai vai ma boa matéria para seu blog e só passar lá na previdência...

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  2. Eu sempre gosto de conversar com estes caras, dá sempre um "caldo' muito bom. Bilu, Zé Paulo, Ronzei e tantos outros sempre me contaram boas passagens. Valeu, pena que você não se identificou, ficou no anônimo. Apareça e conte alguma boa prá nós.

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  3. Eu cheguei a ver este time do DER jogar algumas vezes em São fidélis. Era um bom time. Cabana no gol,Zé Albino e Carlinhos na zaga, Pula Nágua na lateral esquerda(discordo que fosse cintura dura,jogava bem), Fradeco no meio-campo,Vandinho na ponta-direita. São os que consigo lembrar. Muito legal a história.

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  4. Cadeira dura era o Capela, o lateral titular, butinudo prá caramba.

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