América x Americano: Um clássico que marcou minha estreia no rádio

Americano x América, quinze e trinta, Estádio Manoel Viana de Sá, em São João da Barra, um negócio diferente me dá aqui no peito e sinto, com toda certeza, uma tristeza profunda com a situação destes dois tradicionais times do futebol do Rio de Janeiro, que um dia protagonizaram jogos incríveis e participaram de decisões de turno e de título final.

Para este escriba é o jogo mais marcante em toda sua trajetória no rádio, foi minha estreia nos microfones da Campos Difusora, em 14 de fevereiro de 1979, e marcou definitivamente minha trajetória pelo rádio esportivo. Foi neste dia, uma quarta-feira, que Luiz Cândido Tinoco, narrador e apresentador do Bate Bola, na Difusora, acreditou em mim e delegou-me o direito de ir ao Hotel Pálace cobrir o time carioca.

Foi legal, creio que já contei aqui, encontrei duas pessoas amigas, o técnico Joubert Meira e o médico Fernando Biari, que conheci em São Januário, ele era um dos craques do timaço de basquete do CR Vasco da Gama, e meu trabalho foi facilitado pelos citados e despertou interesse do pessoal da Difusora, principalmente um dos sócios, Pereira Júnior, que autorizou minha estreia no jogo das 21h no Godofredo Cruz.

Fui para pista, como repórter volante, ajudado por Pessanha Filho, lenda viva do rádio brasileiro, e incentivado pelo quase conterrâneo Té, paduano e amigo de longa data, que era o ídolo do Americano no final dos anos setenta. Fiz meu trabalho na reportagem até as duas equipes entrarem em campo para um jogo dramático e disputado palmo a palmo.

Alguns momentos antes chegou a notícia ruim, que infelizmente me favoreceu, o pai do comentarista Luiz Mário Concebida, titular absoluto da Difusora, havia falecido e Aloísio Parente, a fera internacional da narração, me chama a cabine e me diz: "Menino, você está todo assanhado e por isto vai comentar o jogo para nós, tem problema?"

Claro que não e lá fui eu, tremendo que nem uma vara verde, assumir o posto de comentarista da Campos Difusora, a maior emissora do interior fluminense. Nada a temer, eu conhecia bem os dois times e sabia o que fazer pois era ouvinte assíduo das rádios cariocas e tinha certeza de que me daria bem analisando um jogo entre Americano e América pelo Estadual do Rio de Janeiro.

Resumindo, para não ficar muito longo o papo, o Americano venceu por 1x0, gol de Té, cobrando pênalti, e foi muito aplaudido pelos alvinegros que lotaram o Godofredo Cruz naquela noite bonita de verão. 

Todo mundo feliz e o Parente me pergunta: - Este Americano pode até ir mais além do que imaginamos?
- Pode, respondi, mas este time do América não é parâmetro, está em má fase e não vai aguentar o Fluminense no sábado, se jogar como hoje leva uma goleada do tricolor no Maracanã.

Fizeram cara de espanto, onde já se viu um cara, que vem da roça, chegar aqui e falar uma bobagem desta? 
Sabe o que aconteceu no sábado? Fluminense 6 x América 1 e quando cheguei, para fazer Goytacaz x São Cristóvão, no domingo, meu prestígio estava em alta e fui contratado imediatamente.

Hoje tem Americano x América, mas sem o brilho das estrelas daquele jogo de fevereiro de 79 e lá em São João da Barra os tradicionais frequentadores da Elite do Rio estarão se enfrentando pela Segunda Divisão. Dá ou não dá uma dor no peito?

Comentários

  1. Em homenagem à sua estréia no rádio, posto aqui os segundos finais das narrações das Copas de 58 e 62:
    Edson Leite em 1958

    No meu cronômetro faltam 10 segundos…bola longa para a área brasileira…fica na esquerda agora com Orlando, Orlando para Pelé, Pelé domina no peito e de calcanhar para Zagalo, Zagalo prepara-se, tem Pelé, levanta para Pelé….entrou de cabeça para o arrrrco….e goooool…….Pelé, com uma cabeçada extraordinária marca o quinto gol do Brasil.
    Brasil, campeão mundial de futebol, 2 gols de Vavá, 2 gols de Pelé, 1 gol de Zagalo, vitória de marca do escrete brasileiro. Brasil, pela primeira vez se pode dizer, campeão realmente do mundo, em 1958.

    A narração tinha um som entrecortado que vinha da Suécia. A voz de Edson Leite as vezes ficava mais fraca para depois subir de tom e , aliado ao eco da transmissão, tornava glamourosa as situações de jogo. Exemplificando, o toque do Orlando para o Pelé, ouvia-se assim: Orlando para Peleééé…onde o final da frase ficava carregado no eco. Já nas situações de gol o eco era muito maior o que tornava mais emocionante a narração. Esta é a minha forma de tentar colocar no artigo a emoção das narrações internacionais.
    Lá se vão 50 anos.

    Oduvaldo Cozzi em 1962

    Brasil campeão do mundo…Brasil bicampeão do mundo, onde estão as bandeiras, teeeeerrrrrminou, ….. teeeeerrrrrminou,……. teeeeerrrrrminou, Brasil bicampeão do mundo, Brasil bicampeão do mundo.

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  2. OS radialistas do Rio e SP - e-mail entre um paulista e um carioca:
    E-mail do Carioca Jairo
    Na década de 50 a emissora que somente tratava de esportes era a extinta
    Rádio Continental e onde trabalhava Oduvaldo Cozzi. A emissora mais potente
    era a rádio Nacional, ( a TV Globo da época) líder absoluta de audiência. Os
    titulares eram Antônio Cordeiro e Jorge Cury. Era uma transmissão difícil
    porque um deles ficava com a defesa e outro com o ataque, de cada um dos
    times. Quando a bola passava do meio de campo o outro assumia e creia eles
    não se atrapalhavam. Luiz Alberto era o terceiro na hierarquia daí vc.
    estranhar o nome.
    Orlando Baptista e Jorge Cury eram os que tinham a vozes mais possantes.
    Orlando Baptista não se destacava tanto porque talvez fosse negro e ainda
    ainda como conseqüência trabalhava numa emissora fraquíssima que eu acho que
    nem existe mais: a Rádio Mauá, com o slogan: a emissora os trabalhadores.

    Eu quando garoto adorava a transmissão do Jorge de Souza e não gostei quando
    ele sumiu. Só depois e agora vc. confirmou soubemos que tinha ido para a
    capital da Paulicéa. Era como tratavam a capital de S. Paulo

    Gilberto o n. de bons locutores era tão grande e bom que esqueci do meu
    amigo, Celso Garcia, com o seu famoso bordão: atenção garoto do placar de
    Maracanã coloque ( o placar era manual) um para o Bangu, zero para o
    Corinthians. Pelo menos na narrativa o Bangu venceu. Gostou da brincadeira?
    Um abraço,
    JLS

    E-mail do Paulista Gilberto
    Mas de São Paulo eu tenho muitas saudades de Edson Leite. Eu não esqueço suas narrações
    do tipo: O meu cronômetro marca…. 20 minutos …placar no Pacaembu…1 x 0 , O Santos vence.
    A copa do mundo de 1958 teve editado um Long Play com trechos de jogos com o Edson Leite. Relembrando dois lances e os tipos de narração:
    1)Bola com Fontaine que atira para o arrrrrco…seguuuuura Gilmar. Monumental defesa de Gilmar.
    2) Bola com Didi, que passa para Pelé que atira para o arrrco…e….gooooooool. Magistral gol de Pelé.
    Este Long Play ainda trouxe as músicas da vitória, com os bordões da época: Aleguá, Aleguá, Hurrra, Hurra, Brasil. A música tinha a seguinte letra: Verde amarelo cor de anil…são as cores do Brasil…..vencemos o mundo inteiro….maior no futebol é o brasileiro. Salve a CBD, jogadores, diretores, salve ò raça varonil campeão do mundo…Brasil.
    Já Fiori Gigliotti tinha estilo peculiar e o diferente era quando
    tínhamos escanteio. Aí quem narrava era o repórter de campo, normalmente o
    Roberto Silva, o “Olho Vivo”.Como eu sempre digo: quem viveu a sua juventude nos anos 40/50,
    certamente têm muitas saudades. Eu peguei apenas um trechinho. Mas foi bom.

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  3. Como diria Milton Leite:"Que beleza!!!"

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