As desventuras do artilheiro Tiquinho*


Não sei se os amigos se lembram, mas é só conferir no Papo de Bola que encontrarão por lá um texto sobre um garoto, aqui do interior, filho de um conhecido meu, que explodiu no futebol sem passar pelos caminhos legais, ou seja, não jogou a base em qualquer um dos clubes da cidade e foi descoberto, sem querer, por um olheiro estrangeiro, nas praias do Farol de São Thomé. 

Tiquinho ganhou o mundo e ganhou dinheiro. Seu pai, na época em que foi embora para Dinamarca, ficou preocupado com o menino, 17 anos quando saiu da Baixada Campista, mas ficou feliz quando ganhou a sua nova residência, no Farol, que sempre foi o sonho de uma família de colonos e meieiros dependentes das roças em que trabalhavam.

Há dois anos Tiquinho esteve por aqui, conversou longamente comigo e entre uma ou duas cervejas ele me contou a sua vida sadia e sem preocupações financeiras. Dizia, na oportunidade, que estava bem casado, com um filho de dois anos e um outro a caminho, e morava muito bem na Bélgica, para onde foi logo que seus gols começaram a chamar atenção dos empresários europeus.

O tempo não passou muito rápido e esta semana, quase que por acaso, encontrei o pai de Tiquinho pelas ruas de Campos e me assustei. Trôpego devido ao estado etílico avançado, maltrapilho e praticamente mendigando pelas ruas do centro. Quase fingi que não vi, mas a solidariedade falou mais alto e me aproximei. O moço me reconheceu e desta vez foi ele quem tentou disfarçar e fingir que não me viu.

Não adiantou. Fui a seu encontro e perguntei: O que aconteceu? - Nada, simplesmente o dinheiro acabou e não tenho mais notícias de meu filho.

Insisti na pergunta: O que aconteceu? - Nada, o menino desapareceu depois que arrumou uma amante, que era modelo e cantava num grupo de samba lá na Vila Isabel, no Rio de Janeiro, e de lá prá cá nunca mais tivemos notícias dele e nem dos meus netos, e nem chegou notícia se ele se separou ou não.

Não continuei a conversa e meu pensamento voltou para uma fase de Neymar, astro do Santos e da Seleção da CBF, que disse: “O jogador brasileiro é discriminado por ter raízes pobres e humildes”, que ganhou a mídia e alguns defensores.

Certo, mas nem todos conseguem o sucesso financeiro de Neymar ou tem um pai com a cabeça do craque santista, que anda se esbaldando demais e colocando sua imagem exposta com muita freqüência. Tiquinho não teve cabeça e sabe-se lá por onde anda, mas Neymar tem grana suficiente para esconder um escândalo e “comprar” suas brincadeiras de fim de semana. 

E Tiquinho? Será que ainda está jogando futebol profissional? Será que a tal “modelo” ainda está em sua companhia depois da falência? Onde anda Tiquinho? Nem seu pais sabe meu amigo.

* TIQUINHO - Nome fictício para um caso verdade. 

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