Uma queda esperada: Americano na Segundona

Fogos explodiam no Arisão logo após o apito final do árbitro, de onde eu estava, minha poltrona favorita, ouvia os gritos e o barulho dos fogos subindo e só não iluminam os céus de Campos porque a noite ainda não chegara.


Estava começando a noite mais negra para o torcedor do Americano FC, que momentos antes presenciara aquilo que estava escrito há alguns anos, a primeira queda em trinta e três anos de participação nos Estaduais do Rio de Janeiro.


Que festa é esta? Pergunta minha irmã que me visitava, sem saber o que acontece no mundo da bola e sem saber a rivalidade esportiva existente na cidade, aliás e a propósito, uma rivalidade que deveria ser melhor aproveitada pela mídia, pelos investidores e pelos homens de negócio da cidade.


No intervalo do jogo do Engenhão, onde o Flamengo já fazia 1x0 sobre o Americano, revolvi voltar para casa para evitar um possível confronto entre alvianis e alvinegros nas imediações do Estádio Godofredo Cruz, ali no Parque Tamandaré, bairro onde mora Gisele, a minha filha do meio. 


E parecia que eu estava adivinhando, os bares da Pelinca, que mostram o futebol pelo PPV, recebiam um bom público e vi, de onde a vista pode alcançar, camisas pretas e brancas, não eram alvinegras do Botafogo, e azuis e brancas, com toda certeza eram do Goytacaz, e pensei: Isto não vai terminar bem, já tem caixão encomendado e o desfile pelas ruas da cidade, repetindo o que fizera os alvinegros há alguns anos atrás, vai começar em breve.


Nem mesmo o gol de empate, que os companheiros do rádio gritaram com entusiasmo, salvava o Americano do rebaixamento. Naquela altura o Bangu já vencia o desmotivado e comprometido Resende, o Madureira já batia o misto de reservas e juniores do Duque de Caxias e, assim, com tudo praticamente resolvido, sobrava para Americano e Bonsucesso, que segurou um 0x0 em Friburgo e deixou a lanterna com o Americano.


Nem pensei em escrever a crônica do rebaixamento, talvez nem a faça,no momento o que tenho em mente é o lamento de ver o futebol campista navegar em uma rota confusa e complicada e dar aos cariocas, da capital, todos os motivos de comemorarem a queda do time de Eduardo Viana, que ainda vive na memória dos rancorosos torcedores da capital fluminense.


Recebi diversos torpedos no celular, várias mensagens no Twitter e participei de debates no Facebook, mas nada se compara com aquilo que se ouve frente a frente, nas ruas da cidade e no famoso Calçadão de Campos, onde o torcedor extravasa sua ira e sua dor com palavras duras e com uma tristeza profunda que toma conta de seu peito doído.


A festa citada acima, a tal carreata pela cidade carregando um caixão simbolizando a queda do Americano, foi feita e, cá prá nós, bem baixinho, que ninguém nos ouça, é tudo aquilo que eu não gostaria de ver, mas entendo o torcedor alvianil, que guarda na lembrança este mesmo trajeto, realizado anos atrás, com um caixão em azul e branco carregado pelos alvinegros da cidade.


Quem vai tocar o barco do Americano na Segunda Divisão, em 2013? É a pergunta que ouço a cada passo dado da Formosa até ao Centro da cidade. Não acredito que César Gama fugirá da responsabilidade, mas uma coisa é certa, podem anotar, a oposição tem um prato cheio nas mãos e o momento exato para assumir o comando do clube, mas quem vai aparecer para comandar o Americano FC no momento mais triste de sua história? 


E a pergunta que não quer calar: Teremos ou não o clássico Goyta x Cano na próxima temporada?