Seria ainda o "Clássico das Multidões"?


Flamengo e Vasco decidem uma vaga na final da Taça Rio e o clima não é nada amistoso nem fora nem dentro das quatro linhas. Os acontecimentos do último jogo entre ambos, no segundo turno deste estadual, marcaram o jogo deste domingo como explosivo e de alto risco.

Quem vai se arriscar a sentar nas arquibancadas do Engenhão, sem antes, á claro, enfrentar a ira de vascaínos e rubro-negros pelas ruas da cidade? Quem vai pagar para ver uma violência pré estabelecida nas páginas de jornais ou nos programas esportivos?

Antes mesmo de começar o jogo já se fala em “roubo” ou “favorecimento”, isto de ambas as partes, e o que estes dois tradicionais clubes cariocas já fizeram em suas centenárias histórias, os jogos maravilhosos e as decisões fantásticas entre eles, já foram devidamente esquecidas por esta turma de vândalos travestidos de torcedores organizados.

No meu tempo de arquibancadas e geral do Maracanã hoje era dia de chegar cedo, ver a preliminar de aspirantes ou juvenis, depende do ano em que você queira lembrar, de comprar cachorro quente e um mate geladinho para esperar o apito final do árbitro, que não tinha contra si cinquenta câmaras em alta definição das televisões brasileiras.

No meu tempo de arquibancadas e geral do Maracanã, Dida, Vavá, Zico, Roberto e tantos outros craques davam entrevistas enaltecendo o adversário e respeitando o torcedor, que enchia o Maraca e o pior que faziam era jogar mijo na turma da geral, como eu sofri com as torcidas nos dias de “geraldino”.

Hoje as bombas caseiras são preparadas para serem arremessadas antes, durante e depois dos jogos, os duelos são marcados via internet e os ônibus, eu não  os usava, ia a pé de casa até o estádio, bem, os ônibus hoje são ameaçados em todo seu trajeto seja de ida ou de volta.

Ir aos estádio hoje não e mais coisa de família ou uma reunião de amigos. Nos anos 60/70 a turma da vila onde eu morava se reunia no Bar do Seu Arthur, um português flamenguista, ao lado da fábrica da Brahma, na Rua José Higino, na Tijuca, para sair em caminhada rumo ao Maracanã. 

O trajeto, cerca de quinze minutos de caminhada alegre e festiva, nos reservava surpresas a cada metro caminhado, ora um torcedor adversário, naquele tempo não se vestia tanta camisa quanto hoje, passava e dava o grito de guerra, se fosse dos nossos a gente respondia e, caso não fosse, a ordem era para calar e deixar acontecer, confronto não estava no nosso programa.

Já contei aqui que aprendi a gostar de futebol assistindo jogos no Maracanã, levado que era desde criança pequena, lá em Miracema, pelo meu pai Zebinho, e o primeiro grande jogo assistido foi justamente um Flamengo x Vasco, na decisão do campeonato de 1958, mas já em 1959, quando vi o Maracanã mais bonito de minha vida.

Hoje é duro ter que enfrentar a desorganização e a intolerância para chegar ao Engenhão e enfrentar a fúria de duas torcidas sem educação e sem propósito. A família fugiu dos estádios e está sentada na sala de sua casa, com uma bela televisão de alta definição e assistindo ao jogo em paz e ladeado por gente de confiança e civilizada. Ir ao estádio virou “programa de índio” e por isto o público esperado para o clássico das multidões, que dá um lugar na final da Taça Rio, é de apenas 30 mil pagantes.

Nem vou dizer aqui que vi jogos com 200 mil torcedores nas arquibancadas do Maracanã, os mais novos irão dizer que estou gagá e estou contando lorotas típicas de gente velha e saudosista, mas quem viveu os bons tempos das arquibancadas do Maracanã sabe muito bem que não estou mentindo. 

Quem ganha? Tomara.

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