UMA PAIXÃO QUE EVAPORA

Não tenho muito que falar sobre esta situação vivida pelo Flamengo e por seus torcedores, que debatem diariamente, há vinte e quatro anos, sobre a validade ou não do título brasileiro de 1987. O que já discuti com vascaínos, tricolores e botafoguenses durante este tempo dá para encher as páginas de um catálogo telefônico da cidade de São Paulo.

No Armazém do Lenilson encontro o velho amigo Sollon, de papo com o Eucimar e disposto a curtir a oficialização do título. - Sente aqui, meu caro Dutra, tomemos uma cerveja gelada para comemorar o hexa oficializado.

Nem respondi ao bom amigo e eterno guru. Passei batido em direção ao centro da cidade e, para meu espanto, Sollon veio em seguida deixando seu parceiro sorver sozinho a gelada que pedira. - Aonde vais? O que se passa? Tá zangado comigo?

Três perguntas rápidas, todas sem respostas, e o ritmo do passo aumentava a cada minuto já que o assunto, levantado pelo velho guru, não estava na pauta para aquela manhã bonita e ensolarada.

- Você não gostou da oficialização do título? Insistiu Sollon, e, para não trair a confiança de meu convidado (Sollon está hospedado em minha casa), resolvi conversar e dissipar todas as dúvidas sobre o assunto.

- Amigo este título jamais foi extra-oficial no meu ponto de vista. Eu comemorei, chorei, gargalhei e vi, no Maracanã, o gol de Bebeto contra o Internacional. Por isto não tenho nada prá comemorar agora. Ter ou não ter a Taça das Boinhas é algo que não me interessa e, cá prá nós, que ninguém nos ouça, dividir título com o campeão da Segunda Divisão? Isto é um absurdo.

- Mas as torcidas adversárias agora irão nos respeitar, argumenta Sollon.

- Não, meu caro amigo, agora eles terão mais um aditivo em suas invejas, eles terão algo mais para caçoar ou argumentar contra o título conquistado dentro de campo por aquele fantástico time comandado pelo Galinho Zico.

Daí prá frente, do Para Raio’s Bar até a banca do Coliseu, meu destino final, falamos sobre a divisão do Clube dos 13 e do objetivo da CBF em derrubar Fábio Koff, para que Andrés Sanches, o amigo do rei, pudesse negociar com as emissoras de televisão isoladamente, com objetivos de ganhar as gordas comissões e trazer a opositora Patrícia Amorim para o lado de Dom Teixeira.

Expliquei ao meu hóspede que aquela entrega da Taça das Bolinhas ao São Paulo FC era apenas um motivo para botar o clube paulista contra o Flamengo. Foi para provocar um rompimento entre dois fortes aliados, o que me parece ter acontecido, e criar outras ações de bastidores que levarão o poder total e irrestrito ao mandatário do nosso triste futebol.

Há alguns anos eu não tenho mais paixão clubística, gosto do Flamengo e não escondo de ninguém, nem mesmo aqui na coluna, e hoje, ao ver esta negociata envolvendo Flamengo, Corinthians, São Paulo, CBF, Globo, Clube dos 13 e mais uma dezena de interessados no filão da televisão, creio que chegou a hora de romper, definitivamente, o elo que me ligava ao time de minha infância.

Dou um basta em tudo, cancelo a assinatura do PPV do Brasileirão, e vou me dedicar tão somente a minha nova mania, ver jogos das ligas européias onde o profissionalismo impera e as maracutaias, se existem, não são jogadas como mercadoria de troca.

Comentários

  1. Gostei do que li e fico pasmo com a malícia, para o mal, dos dirigentes.

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  2. Parabéns amigo pelas certas e nobres palavras, aliás como sempre, este titulo de 87 ( que eu também estava lá - e, na geral ) já está fadado há tempo nos corações rubro-negros e só para não deixar a peteca cair relembro que o Mengão tem hoje 8 titulos nacionais, 6 brasileiros e 2 copas do brasil, é bom refrescar a memória da torcida arco-íris não é mesmo, abraço à todos por aí amigão!

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  3. Calma, companheiro, como disse, a Taça das Bolinhas é mera cortina de fuça para o que já está acontecendo e irá bem longe. O jogo é outro. É um xadrez esquisito, onde todos os movimentos visam apenas derrutar o bispo. Não desista, lute contra. Se desistir de tudo onde só tem maracutaia, acabarás indo para o deserto, como os fariséus. Zé Maria A

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  4. Adilson, à tempos venho evitando entrar nesse assunto refernte ao brasileiro de 1987, mas agora não resisti, já havíamos conversado e comentei que esse reconhecimento de títulos nacionais para varios torneios passados, tem como pano de fundo a indicação de Ricardo Teixeira para presidir a FIFA e precisa muito di apoio do Pelé, e agora oficializar o brasileiro de 1987 só pode ser uma jogada para fortalecer Snchez como o sucessor do Ricardo Teixeira. Mas uma coisa ninguém pode negar a diretoria do São Paulo foi muto velhaca! Participaram ativamente da decisão tirada no Clube dos Treze que levou o Flamengo a não disputar a decisão com o Sport, honrando o compromisso assumido perante o grupo, depois disso tudo o São Paulo aceita essa taça, desqualificando o título que o Flamengo conquistou merecidadmente nas quatro linhas e perdeu no tapetão justamente por honrar um acordo assumido entre eles. Outra coisa, o futebol europeu passa por um bom momento, mas não se esqueça que a máfia das loterias começou na Itália....rs..

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  5. Dutra, gostei muito do seu comentário. Ingenuamente pensava: - o futebol da CBF é coisa muito séria, tinha alguma dúvida com relação as Federações estaduais, porém, vejo agora, estava completamente equivocado, tudo não passa de ...(não posso dizer o que gostaria), CBF e afins, um grande negócio obscuro. / BRASIL...SIL.. SIL, nada disso, o "negócio" é CBF, AFA, e muito dinheiro rolando, tô fora. / Abrs.

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